Revoltas, Revoluções e Guerras no Brasil


AS INVASÕES FRANCESAS NO BRASIL


                

Em 1555, no governo de Duarte da Costa, os franceses invadiram o Brasil na região do Rio de Janeiro, pois não aceitavam o domínio de Portugal sobre as terras brasileiras.
Os franceses vieram para fundar uma colônia de exploração econômica, através do tráfico do pau-brasil, a madeira mais nobre e bonita que havia em nossas terras.

Comandados pelo almirante Coligny e por Nicolau Durand de Villegaignon, tomaram posse da baía de Guanabara, se instalando na ilha de Paranapuã, a atual ilha do Governador, no estado do Rio de Janeiro. Como eram muito simpáticos e de boa prosa, os franceses não tiveram dificuldades em conquistar a simpatia dos índios Tamoios, que também eram contra os portugueses. Com isso, os franceses contaram com o apoio desses índios para permanecerem no Brasil.



Fortes de Villegaignos e São Luis – tentativas francesas de invadir o Brasil

Mem de Sá, o governador da época, precisou contar com reforços para liderar esse movimento, sendo enviado Estácio de Sá, seu sobrinho, que se tornou o grande líder da disputa.
Os franceses não desistiram. Em 1612, fizeram novas tentativas de se estabelecer no Brasil, mas dessa vez no estado do Maranhão. Sob o camando de Daniel de La Touche, as terras maranhenses foram invadidas, onde fundaram a França Equinocial, construindo o forte de São Luis para se defenderem.
O nome do forte foi uma homenagem ao rei da França na época, Luís XIII, o que originou o nome da futura capital do estado, São Luis do Maranhão.
Mas em 1615 os franceses perderam mais um confronto, os portugueses conseguiram expulsá-los novamente do Brasil.
Fonte de pesquisa: Revista Novo Conhecer - 1977                1
2
INVASÃO HOLANDESA NO BRASIL

O Brasil foi invadido pelos holandeses  por duas vezes. No ano de 1624 ocorreu a posse de Salvador, que durou um ano, e em 1630 eles tomam Pernambuco, controlando quase todo o Nordeste por 24 anos, tendo como principal objetivo a comercialização do açúcar.
De todas as regiões nordestinas, a mais abastada do mundo no cultivo de açúcar era Pernambuco, e como o objetivo dos holandeses era o controle deste produto na Europa, Pernambuco foi um alvo importante durante as invasões holandesas.
Os holandeses pretendiam alcançar a região dos engenhos, porém, eles foram obstruídos pelas Milícias dos Descalços – guerrilheiros que tinham o intuito de fazer oposição às invasões.
No ano de 1637 chegou a Pernambuco, designado pela Companhia das Índias – empresa instituída pela Holanda para avalizar a comercialização do açúcar brasileiro -, o conde Maurício de Nassau, militar de nacionalidade alemã que para ali fora designado no intuito de consolidar o domínio holandês.
Sua primeira ação prática consistiu em ampliar a área já subjugada instituindo um fidedigno Brasil holandês. Entre suas iniciativas está o alargamento do limite sul da Nova Holanda – nome que recebeu a região conquistada pelos holandeses – até as margens do Rio São Francisco, e a criação do forte Maurício, próximo à vila de Penedo.
Maurício de Nassau foi o responsável por um grande progresso no Nordeste durante sua administração: criaram-se muitos hospitais, asilos e várias ruas foram ladrilhadas.
Em 1640, ocorreu um abalo em Portugal que libertou este do domínio Espanhol; no ano de 1641, Portugal, estando em desavença com a Espanha, opta por um armistício de dez anos com a Holanda, que em pouco tempo passa a valer também no Brasil.
Não havendo mais tentativas de se tomar outras terras, Nassau passou a dedicar-se inteiramente à administração do território brasileiro holandês.
Maurício de Nassau procurou obter a aceitação dos senhores de engenho e da população à ocupação holandesa, não se preocupou em gastar o dinheiro da Companhia das Índias para realizar melhorias nas cidades, em folguedos para o povo e principalmente em comodatos aos proprietários rurais que tiveram suas lavouras danificadas em virtude das lutas, estimulou as artes e as ciências e instituiu uma vida cultural totalmente nova e desconhecida até o momento pelo Brasil colonial.
Economicamente, tentou diferenciar a agricultura nordestina da pecuária do Rio Grande do Norte, no campo político expandiu a participação das camadas gerenciadoras, incluindo os judeus, portugueses e comerciantes, sendo que holandeses tornaram-se a metade dos representantes e a outra se constituía de luso-brasileiros.
Em 1640, chamou-se o primeiro Parlamento da América do Sul para a instituição de uma legislação para o Brasil holandês.Em 1644, se finda o governo de Maurício de Nassau, sendo sua deposição aceita pela Companhia das Índias, com quem já vinha em conflito há algum tempo em virtude de seus gastos considerados excessivos.
Após a partida de Maurício de Nassau, intensificaram-se os conflitos entre os senhores de engenho e os comerciantes holandeses, pois devido a várias intempéries os senhores de engenhos não estavam conseguindo pagar os empréstimos efetuados para as plantações. A Companhia das Índias resolveu assumir as dívidas dos plantadores com os comerciantes, porém não o fez de graça, interveio nos engenhos confiscando a produção.
Em 1645, após muitos confrontos, finalmente os colonos portugueses – apoiados por Portugal e Inglaterra – conseguiram expulsar os holandeses do território brasileiro.
Durante o tempo em que ficaram no Brasil, os holandeses deixaram como legado várias melhorias para o país, como a implantação de uma sociedade urbana em Recife, por exemplo; a luta contra os invasores contribuiu também para a concepção do sentimento nativista no povo.
A GUERRA DOS MASCATES




A partir de 1654, a expulsão definitiva dos holandeses de Pernambuco provocou uma grande mudança no cenário econômico daquela região. Os grandes produtores de açúcar que anteriormente usufruíram dos investimentos holandeses, agora viviam uma crise decorrente da baixa do açúcar no mercado internacional e a concorrência do açúcar produzido nas Antilhas. Contudo, esses senhores de engenho ainda possuíam o controle do cenário político local por meio do poder exercido na câmara municipal de Olinda.
Em contrapartida, Recife – região vizinha e político mente subordinada à Olinda – era considerado o principal pólo de desenvolvimento econômico de Pernambuco. O comércio da cidade trazia grandes lucros aos portugueses, que controlavam a atividade comercial da região. Essa posição favorável tinha como motivação as diversas melhorias empreendidas na cidade com a colonização holandesa, que havia transformado a cidade em seu principal centro administrativo
Com o passar do tempo, a divergência da situação política e econômica entre os fazendeiros de Olinda e os comerciantes portugueses de Recife criou uma tensão local. Inicialmente, os senhores de engenho de Olinda, vivendo sérias dificuldades para investirem no negócio açucareiro, pediram vários empréstimos aos comerciantes portugueses de Recife. Contudo, a partir da deflagração da crise açucareira, muitos dos senhores de engenho acabaram não tendo condições de honrar seus compromissos.




Nessa mesma época, a complicada situação econômica de Olinda somava-se ao completo sucateamento da cidade, que sofreu com as guerras que expulsaram os holandeses. Com isso, a câmara de Olinda decidiu aumentar os impostos de toda a região, incluindo Recife, para que fosse possível recuperar o centro administrativo pernambucano. Inconformados, os comerciantes portugueses, pejorativamente chamados de “mascates”, buscaram se livrar da dominação política olindense.
Para tanto, os comerciantes de Recife conseguiram elevar o seu povoado à categoria de vila, tendo dessa maneira o direito a formar uma câmara municipal autônoma. A medida deixou os latifundiários de Olinda bastante apreensivos, pois temiam que dessa forma os comerciantes portugueses tivessem meios para exigir o pagamento imediato das dívidas que tinham a receber. Dessa forma, a definição das fronteiras dos dois municípios serviu como estopim para o conflito.




A guerra teve início em 1710, com a vitória dos olindenses que conseguiram invadir e controlar a nova cidade pernambucana. Logo em seguida, os recifenses conseguiram retomar o controle de sua cidade em uma reação militar apoiada por autoridades políticas de outras capitanias. O prolongamento da guerra só foi interrompido no momento em que a Coroa Portuguesa indicou, em 1711, a nomeação de um novo governante que teria como principal missão estabelecer em ponto final do conflito.
O escolhido para essa tarefa foi Félix José de Mendonça, que apoiou os mascates portugueses e estipulou a prisão de todos os latifundiários olindenses envolvidos com a guerra. Além disso, visando evitar futuros conflitos, o novo governador de Pernambuco decidiu transferir semestralmente a administração para cada uma das cidades. Dessa maneira, não haveria razões para que uma cidade fosse politicamente favorecida por Félix José.



GUERRA DOS EMBOABAS


Nos primeiros anos do século XVIII, a descoberta de ouro no Brasil proporcionou um interessante conjunto de mudanças dentro e fora dos limites do território colonial. Em geral, a oportunidade de se enriquecer por meio da mineração atraiu o interesse de populações de outras províncias e dos próprios portugueses que souberam da notícia na metrópole. Dessa forma, em pouco tempo as jazidas encontradas seriam alvo de uma violenta disputa.
Os bandeirantes paulistas, responsáveis pelas primeiras descobertas, acreditavam que a exploração das minas deveria ser reservada aos pioneiros da região. Em contrapartida, a Coroa Portuguesa enxergava o feito como mais uma excelente oportunidade de negócio capaz de sanar a vida do Estado Lusitano. Dessa forma, a região de Minas Gerais, entre 1708 e 1709, acabou se transformando em palco de um conflito que acabou conhecido como a Guerra dos Emboabas.
A utilização do termo “emboaba” era pejorativamente dirigida aos estrangeiros que tentaram controlar a região tardiamente. Na língua tupi, essa expressão era originalmente utilizada pelos indígenas para fazer menção a todo tipo de ave que tinha sua perna coberta de penas até os pés. Com o passar do tempo, os bandeirantes paulistas a reinterpretaram para se referir aos forasteiros que, calçados de botas, alcançavam a região interiorana atrás dos metais preciosos.
Sob a liderança de Manuel Nunes Viana, os emboabas organizaram diversas expedições em que buscavam enfraquecer a hegemonia dos paulistas nas regiões mineradoras. Entre as lutas mais intensas, o combate desenvolvido no Capão da Traição ficou conhecido pela morte de 300 paulistas pela mão dos emboabas. Tendo em vista a situação de confronto, os colonizadores portugueses buscaram formas para reafirmar sua autoridade no local. 
No ano de 1709, a Coroa Portuguesa determinou a imediata separação territorial das capitanias de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Ao fim da guerra, os bandeirantes buscaram outras jazidas nas regiões de Mato Grosso e Goiás. Alguns destes bandeirantes, beneficiados com o ganho da atividade mineradora, aproveitaram para formar unidades agrícolas que abasteceriam os núcleos urbanos que surgiram naquela mesma época.

INCONFIDÊNCIA MINEIRA OU CONJURAÇÃO MINEIRA
A Inconfidência Mineira, ou Conjuração Mineira, foi uma tentativa de revolta abortada pelo governo em 1789, em pleno ciclo do ouro, na então capitania de Minas Gerais, no Brasil, contra, entre outros motivos, a execução da derrama e o domínio português.
Foi um dos mais importantes movimentos sociais da História do Brasil. Significou a luta do povo brasileiro pela liberdade, contra a opressão do governo português no período colonial.
No final do século XVIII, o Brasil ainda era colônia de Portugal e sofria com os abusos políticos e com a cobrança de altas taxas e impostos. Além disso, a metrópole havia decretado uma série de leis que prejudicavam o desenvolvimento industrial e comercial do Brasil. No ano de 1785, por exemplo, Portugal decretou uma lei que proibia o funcionamento de indústrias fabris em território brasileiro.

 


Causas


Neste  período, era grande a extração de ouro, principalmente na região de Minas Gerais. Os brasileiros que encontravam ouro deviam pagar o quinto, ou seja, vinte por cento de todo ouro encontrado acabava nos cofres portugueses. Aqueles que eram pegos com ouro “ilegal” (sem  ter pagado o imposto”) sofria duras penas, podendo até ser degredado (enviado a força para o território africano).
Com a grande exploração, o ouro começou a diminuir nas minas. Mesmo assim as autoridades portuguesas não diminuíam as cobranças. Nesta época, Portugal criou a Derrama. Esta funcionava da seguinte forma: cada região de exploração de ouro deveria pagar 100 arrobas de ouro (1500 quilos) por ano para a metrópole. Quando a região não conseguia cumprir estas exigências, soldados da coroa entravam nas casas das famílias para retirarem os pertences até completar o valor devido.
Todas estas atitudes foram provocando uma insatisfação muito grande no povo e, principalmente, nos fazendeiros rurais e donos de minas que queriam pagar menos impostos e ter mais participação na vida política do país. Alguns membros da elite brasileira (intelectuais, fazendeiros, militares e donos de minas), influenciados pela idéias de liberdade que vinham do iluminismo europeu, começaram a se reunir para buscar uma solução definitiva para o problema: a conquista da independência do Brasil.

Os Inconfidentes 


Tiradentes: líder da Inconfidência Mineira
O grupo, liderado pelo alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido por Tiradentes (saiba mais sobre ele) era formado pelos poetas Tomas Antonio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa, o dono de mina Inácio de Alvarenga, o padre Rolim, entre outros representantes da elite mineira. A ideia do grupo era conquistar a liberdade definitiva e implantar o sistema de governo republicano em nosso país. Sobre a questão da escravidão, o grupo não possuía uma posição definida. Estes inconfidentes chegaram a definir até mesmo uma nova bandeira para o Brasil. Ela seria composta por um triangulo vermelho num fundo branco, com a inscrição em latim : Libertas Quae Sera Tamen (Liberdade ainda que Tardia).

Conseqüências


A Inconfidência Mineira transformou-se em símbolo máximo de resistência para os mineiros, a exemplo da Guerra dos Farrapos para os gaúchos, e da Revolução Constitucionalista de 1932 para os paulistas. A Bandeira idealizada pelos inconfidentes foi adotada pelo estado de Minas Gerais.
                         Fonte de Pesquisa: Revista Novo Conhecer - 1977                         1
                                                                                     2
                                                                                    3

Revista Escola Ilustrada







A Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates

A Conjuração Baiana, também denominada como Revolta dos Alfaiates (uma vez que seus líderes exerciam este ofício), foi um movimento separatista de caráter emancipacionista, ocorrido no ocaso do século XVIII, na então Capitania da Bahia, no Estado do Brasil. Diferentemente da  Inconfidência Mineira (1789), reveste-se de caráter popular

Antecedentes

Sendo a então Capitania da Bahia governada por D. Fernando José Portugal e Castro (1788 - 1801), a capitania, Salvador, fervilhava com queixas contra o governo, cuja política elevava os preços das mercadorias mais essenciais, causando a falta de alimentos, chegando o povo a arrombar os açougues, ante a ausência de carne.
O clima de insubordinação contaminou os quartéis, e as ideias nativistas que já haviam animado Minas Gerais, foram amplamente divulgadas, encontrando eco sobretudo nas classes mais humildes.
A todos influenciava o exemplo da independência das Treze colônias Inglesas, e idéias iluministas republicanas e emancipacionistas eram difundidas também por uma parte da elite culta, reunida em associações como a Loja Maçônica Cavaleiros da Luz
Os 5 pontos da conjuração baiana eram:
1.                  Proclamação da República.
2.                  Diminuição dos Impostos.
3.                  Abertura dos Portos.
4.                  Fim do Preconceito.
5.                  Aumento Salarial.


Idéias

Os revoltosos pregavam a libertação dos escravos, a instauração de um governo igualitário (onde as pessoas fossem vistas de acordo com a capacidade e merecimento individuais), além da instalação de uma República na Bahia e da liberdade de comércio e o aumento dos salários dos soldados. Tais idéias eram divulgadas sobretudo pelos escritos do soldado Luiz Gonzaga das Virgens e panfletos de Cipriano Barata, médico e filósofo.

A Revolta

Em 12 de agosto de 1798, o movimento precipitou-se quando alguns de seus membros, distribuindo os panfletos na porta das igrejas e colando-os nas esquinas da cidade, alertaram as autoridades que, de pronto, reagiram, detendo-os. Tal como na Conjuração Mineria, interrogados, acabaram delatando os demais envolvidos.
Um desses panfletos declarava:
"Animai-vos Povo baiense que está para chegar o tempo feliz da nossa Liberdade: o tempo em que todos seremos irmãos: o tempo em que todos seremos iguais." (in: RUY, Afonso. A primeira revolução social do Brasil. p. 68).

A repressão

Durante a fase de repressão, centenas de pessoas foram denunciadas - militares, clérigos, funcionários públicos:
§            Luís de Freitas Pires em Cabo Corso;

§            José Felix da Costa em Fortaleza do Moura;

§            José do Sacramento em Comenda, sob domínio inglês.

Cada um recebeu publicamente 500 chibatadas no Pelourinho, à época no Terreiro de Jesus, e foram depois conduzidos para assistir a execução dos sentenciados à pena capital. A estes degredados acrescentavam-se os nomes de:

§            Pedro Leão de Aguilar Pantoja degredado no Presídio de Benguela por 10 anos;

§            o escravo Cosme Damião Pereira Bastos, degredado por cinco anos em Angola;

§            os escravos Inácio Pires e Manuel José de Vera Cruz, condenados a 500 chibatadas, ficando seus senhores obrigados a vendê-los para fora da Capitania da Bahia;

§           José Raimundo Barata de Almeida, degredado para a Ilha de Fernando de Noronha;

§           os tenentes Hemógenes Francisco de Aguyilar Pantoja e José Gomes de Oliveira Borges, permaneceram detidos por seis meses em Salvador;

§           Cirpriano Barata, detido a 19 de setembro de 1798, solto em Janeiro de 1800.
os e pessoas de todas as classes sociais. Destas, quarenta e nove foram detidas, a maioria tendo procurado abjurar a sua participação, buscando demonstrar inocência.

Conclusão


O movimento envolveu indivíduos de setores urbanos e marginalizados na produção da riqueza colonial, que se revoltaram contra o sistema que lhes impedia perspectivas de ascensão social. O seu descontentamento voltava-se contra a elevada carga de impostos cobrada pela Coroa portuguesa e contra o sistema escravista colonial, o que tornava as suas reivindicações particularmente perturbadoras para as elites. A revolta resultou em um dos projetos mais radicais do período colonial, propondo idealmente uma nova sociedade igualitária e democrática. Foi barbaramente punida pela Coroa de Portugal. Este movimento, entretanto, deixou profundas marcas na sociedade soteropolitana, a ponto tal que o movimento emancipacionista eclodiu novamente, em 1821, culminando na guerra pela Independência da Bahia, concretizada em 2 de julho de 1823, formando parte da nação que emancipara-se a 7 de setembro do ano anterior, sob império de D.Pedro I.

CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR
A dissolução da Assembléia de 1823 e a outorga da Constituição de 1824 geraram de imediato uma violenta reação na província de Pernambuco.
As Câmaras Municipais de Olinda e de Recife já haviam negado aprovação àqueles atos do imperador alegando que assim agiam movidas pela (...) "desconfiança não pequena em que se acham todos os habitantes desta província (...), receando (...) o restabelecimento do antigo e sempre detestável despotismo, a que estão dispostos a resistir corajosamente".
Este descontentamento também já atingia outras províncias no Norte e no Nordeste do Brasil. Nelas, avolumavam-se os comentários de que o Rio de Janeiro havia se transformado numa "nova Lisboa" dominada por portugueses que oprimiam e prejudicavam os brasileiros. Na província de Pernambuco - em Recife, especialmente - a crença generalizada de que os portugueses exploravam os "patriotas pernambucanos" teria sido um dos motivos que deflagrara a Revolução Pernambucana de 1817.
Não era por acaso que pelas ruas de Recife circulava esta quadrinha:

"Sem grande corte na Corte Não se goza um bem geral; Que o corte é que nos faz bem, A Corte, é quem nos faz mal."

Em meio a isto tudo renasceria em Pernambuco, nos primeiros anos do Governo de D. Pedro I, um sentimento nativista inspirado no episódio das invasões holandesas da região no século XVII. Agora, este sentimento retornava temperado pela divulgação, e até mesmo encampação, das idéias liberais européias.


Cipriano Barata


As idéias liberais ganharam ímpeto a partir da presença e da atuação, no Recife, do político e jornalista baiano Cipriano José Barata de Almeida que retornava da Europa. Apesar de formado em medicina, pela Universidade de Coimbra, passou a maior parte de sua vida dedicada às atividades políticas.
Cipriano Barata era, segundo o historiador Amaro Quintas, (...) "irriquieto e combativo". Constava inclusive que por repudiar traços de qualquer outra Metrópole, usava roupas feitas apenas com tecidos do Brasil. Era também conhecido como "homem de todas as revoluções" pois estivera na Conjuração Baiana de 1798 e na Revolução Pernambucana de 1817.
A partir de 1823 começara a publicar um periódico chamado Sentinela da Liberdade. Por meio da nascente imprensa - que veiculava críticas e propostas políticas incentivando e envaidecendo uns, preocupando e descontentando outro - Cipriano Barata hostilizava o Governo imperial. Utilizando um texto combativo e agressivo, posicionava-se a favor das idéias republicanas e da autonomia das províncias. Por essa razão foi detido na fortaleza de Brum, em Pernambuco, em 17 de novembro de 1823.
Preso, desagradando e inquietando a muitos, continuou opondo-se ao Governo escrevendo outro jornal, dando-lhe o nome de: "Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, atacada e presa na fortaleza de Brum por ordem da força armada reunida." Transferido, posteriormente, para o Rio de Janeiro acabaria passando por inúmeras fortalezas permanecendo detido até 1830.


A Confederação


Em meio a este clima tenso, D. Pedro I nomeou um novo presidente para a província - Francisco Pais Barreto - destituindo Manuel Paes de Andrade, que fora escolhido pelas Câmaras de Olinda, Recife, Igaraçu, Pau-d'Alho, Cabo, Limoeiro e Serinhaém.

Esta decisão abriu caminho para o início do movimento separatista que ficou conhecido como Confederação do Equador. Seus participantes, apresentando-se como "patriotas pernambucanos", discordaram desta medida do imperador, considerando-a autoritária. O movimento ganhou ímpeto, desafiando o poder central, espalhando-se pelas ruas de Recife, inclusive contando com a adesão de alguns estrangeiros.
A revolta, de conteúdo "antilusitano", teve como líder Manuel de Carvalho, que participara ativamente da Revolução de 1817 e que, por conta disto, fora exilado nos Estados Unidos da América tornando-se grande admirador daquele país. A 2 de julho de 1824 Manuel de Carvalho proclamou a Confederação do Equador, uma nova República na América que deveria unir, num mesmo Estado, todas as províncias da Bahia até o Grão-Pará.
O Manifesto da Proclamação da Confederação do Equador declarava, entre outros pontos, que (...) "salta aos olhos a negra perfídia, são patentes os (...) perjúrios do Imperador". Ficava bem clara a idéia que os participantes faziam do monarca, e temiam os rumos que o Império tomaria após a outorga da Constituição de 1824.
A tensão aumentava neste movimento, acentuadamente urbano e popular, de caráter mais democrático do que os anteriores movimentos nativistas. Era, por exemplo, muito diferente da Revolução Pernambucana de 1817, liderada por proprietários de escravos e de terras, comerciantes locais e muitos militares, que entendiam estar sendo explorados pelos portugueses da "nova Lisboa".
Na descrição da viajante Maria Grahan, o ambiente na província pernambucana, guardadas as proporções, era semelhante ao que se sentia na França ao tempo da Revolução Francesa. Muitos olhos espreitavam e muitos ouvidos permaneciam atentos, pelos cantos, sempre à espera de armadilhas e traições.
Para organizar o Estado que surgia convocou-se uma Assembléia, que elaborou um projeto constitucional que priorizava o Poder Legislativo. Suspendia também o tráfico negreiro no porto de Recife (...) "até que a soberana Assembléia resolva este Negócio", considerando ser este (...) "um comércio, que está em completa oposição com os princípios do Direito Natural, e as luzes do presente século."
Este ponto, porém, causou um fracionamento no movimento pois atingia em cheio os poderosos interesses locais, como já ocorrera em 1817. Por outro lado, a participação de camadas populares - homens livres, pretos, mulatos e militares de baixa patente - colocou em pauta outros enfoques que alarmaram a população branca que compunha a elite local.
Uma violenta repressão iniciou-se em agosto de 1824. As tropas do Governo avançaram e, com sucessivas vitórias, puseram fim à Confederação do Equador em 29 de novembro de 1824. As instruções passadas pelo Governo imperial diziam (...) "não admitir concessão ou capitulação, pois a rebeldes não se deve dar quartel".
A maior parte dos líderes do movimento, em Pernambuco e nas outras províncias, foi presa e julgada por tribunais militares. Frei Caneca foi acusado, entre outras ações, de (...) "aprender ofício de soldado (...) de ser declamador (...) de ser capitão de guerrilhas, (...) de fugir com os rebeldes e, na debandada de ser preso".
D. Pedro I mostrou-se irredutível em relação ao cumprimento das penas dos condenados à morte. Não atendeu a nenhum apelo irritando-se com a insistência dos pedidos. Frei Caneca, condenado à forca, acabou sendo fuzilado por soldados das tropas imperiais em 13 de janeiro de 1825, pois os carrascos pernambucanos negaram-se a cumprir a sentença. O historiador Nelson Werneck Sodré comenta que Frei Caneca às vésperas da morte, compôs alguns versos sendo que os últimos diziam: "A vida do patriota não pode o tempo acabar..."


CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR

Movimento de tendência republicana e autonomista que ocorre em Pernambuco e em outras províncias do Nordeste brasileiro em 1824. Está diretamente ligado ao processo da independência e da formação do Estado brasileiro no Primeiro Reinado.
No final de novembro de 1823 chega a Pernambuco a notícia da dissolução da Assembléia Constituinte por dom Pedro I, no Rio de Janeiro. A decisão autoritária do imperador provoca imediata reação dos dirigentes provinciais. O movimento cresce quando dom Pedro outorga a Constituição do Império em março de 1824 sem convocar eleições para uma nova Constituinte. As elites pernambucanas contestam a legitimidade dessa Carta e, com a adesão da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará, anunciam a formação de uma República, a Confederação do Equador. Para presidi-la é escolhido Manuel de Carvalho Pais de Andrade.

Frei Caneca

Seu principal ideólogo é o carmelita frei Joaquim do Amor Divino Rabelo e Caneca, que em seu jornal Typhis Pernambucano defende a autonomia das províncias diante do governo imperial e dos poderes Legislativo e Judiciário perante o Executivo. A reação do governo imperial é imediata. Em setembro de 1824, os rebeldes são cercados no Recife pelas forças do brigadeiro Francisco de Lima e Silva e pela frota do almirante Cochrane. Derrotados na capital, eles fogem para o interior, onde são mortos ou aprisionados. No início de 1825, os principais chefes são julgados e condenados à prisão, como Cipriano Barata, ou executados, como Frei Caneca e Agostinho Bezerra.
O levante de 1824 tem suas raízes na Revolta Pernambucana de 1817, que também defendia os ideais liberais e federativos. Com a independência e a convocação da Constituinte, essa posição se torna mais firme e entra em choque com os interesses do imperador e das elites políticas do sul. No campo social, as propostas são tímidas e não incluem a extinção da escravidão. A Confederação avança nos aspectos político e institucional, na defesa do direito de voto, de eleições diretas em vários níveis e equilíbrio dos poderes, com a eliminação do Poder Moderador e a representação parlamentar das províncias na Câmara e no Senado do Império.


GUERRA DO PARAGUAI
Revista Super Interessante - setembro de 1999

Fonte de Pesquisa: revista Novo Conhecer - 1977 - 1


Noite das garrafadas

Portugueses e brasileiros entram em conflito

A noite das garrafadas - como ficou conhecido o conflito envolvendo portugueses que apoiavam D.Pedro I e brasileiros que faziam oposição ao imperador - foi um dos principais acontecimentos do período imediatamente anterior à abdicação do monarca, em abril de 1831. O conflito, que ocorreu nas ruas do Rio de Janeiro no dia 13 de março de 1831, levou esse nome pelo fato de os brasileiros terem utilizado pedras e garrafas para atacar os portugueses.


A relação entre portugueses e brasileiros 

Como colônia de Portugal, o Brasil sempre abrigou muitos lusitanos, que freqüentemente ocupavam postos de destaque na vida política brasileira. Tal situação não se modificara com a volta de D.João VI para a Europa. Afinal, embora tenha retornado à sede da Casa de Bragança, o rei deixara no Brasil , um português, como príncipe regente.seu filho
A Proclamação da Independência também não modificou esse quadro, uma vez que o primeiro imperador do Brasil havia nascido em Portugal. Seus ministros eram portugueses, assim como os principais burocratas do governo, a oficialidade militar e os grandes comerciantes. Ou seja, o 7 de setembro representou mais uma continuidade do que uma ruptura, o que viria a ocorrer apenas em 1831, com a abdicação de d. Pedro 1° ao trono.
O imperador freqüentemente se envolvia em assuntos ligados à vida política de Portugal. Esse foi o caso, por exemplo, do conflito em torno da sucessão portuguesa, em 1826, após a morte de d. João 6°. Havia certa desconfiança de que d. Pedro 1° pudesse, de alguma forma, tentar unir novamente Portugal e Brasil - talvez como um reino unido, tal como em 1815.
Ao mesmo tempo, o imperador vinha assumindo uma postura bastante autoritária. Em 1823, diante dos limites impostos pela Assembléia Nacional Constituinte quanto à concessão de títulos de nobreza pelo imperador, d. Pedro 1° decidiu fechá-la, impondo, já no ano seguinte, uma Constituição - a primeira do Brasil.
A relação do imperador com a Assembléia, na verdade, expressava a tensão que existia entre portugueses e brasileiros, sobretudo o grupo mais radical. Isso porque setores conservadores, com freqüência, agiam em parceria com o partido português. Receosos de que o avanço dos grupos radicais pudesse levar a reformas - talvez a um governo republicano -liberais moderados e portuguesas se uniram em torno da figura de d. Pedro 1°.
As críticas da imprensa:
João Batista Líbero Badaró, jornalista italiano radicado no Brasil e dono do jornal “O Observador Constitucional”, argumentava que o governo imperial estava exercendo um autoritarismo negligente com artigos a favor da liberdade dos brasileiros através do rompimento das ligações políticas com os mandatários lusitanos. Suas ideias liberais atacavam com veracidade o descaso de D. Pedro I e sua morte, em 20 de novembro de 1830 por quatro assassinos alemães, acabou sendo atribuída ao império português.
A tensão, porém, ampliou-se para a imprensa e, de lá, para as ruas, culminando na noite das garrafadas, em 13 de março de 1831.
Com a abertura dos trabalhos legislativos, em 1826, os liberais exaltados passaram a fazer oposição sistemática ao imperador. Convocavam ministros para prestar esclarecimentos, abriam inquéritos contra auxiliares de d. Pedro 1°e criticavam as opções do imperador.Na mesma linha, a imprensa atacava de maneira contundente o governo brasileiro. Diante das críticas, o monarca chegou até mesmo a mandar processar o jornalista Borges da Fonseca. Entretanto, o assassinato de outro jornalista, Libero Badaró, em novembro de 1830, levantou a suspeita de que sua morte teria sido encomendada por d. Pedro 1° - alvo preferido dos artigos de Badaró..
Com a situação cada vez mais radicalizada, o imperador decidiu fazer uma série de viagens pelas províncias, na tentativa de diminuir a oposição a seu governo. O primeiro destino, Ouro Preto, em Minas Gerais, foi um verdadeiro fracasso. D. Pedro 1° foi hostilizado pela população da cidade, que fechava as portas, em sinal de protesto, quando passava a comitiva imperial.
Os portugueses residentes no Rio de Janeiro, então, decidiram fazer uma grande festa em apoio ao imperador, que retornava de Ouro Preto. A festividade lusitana, em contraste com o clima de acirramento político, o assassinato de Líbero Badaró e o autoritarismo do imperador, só agravaram a situação. Na noite do dia 13, o conflito chegou às ruas quando brasileiros, de pedras e garrafas nas mãos, atacaram os portugueses. Noite das garrafadas



                    PERÍODO REGENCIAL DO BRASIL


Pedro, pequeno príncipe, criança!

Educado para ser o futuro rei do Brasil.

Regido por outros enquanto inocente.

Ignorando suas responsabilidades, mil.

Omisso só pensa em brincar.

Durante sua menoridade.

Outros regem o imenso Brasil


Responsabilidades o esperam.

Esperança de Portugal para a colônia.

Goste ou não é este o seu destino.

Edificar a casa Luso Brasileira!

Num período de muitas revoltas.

Como: Sabinada, Balaida e Cabanagem..

Incomodam o gigante Brasil.

Aguardando que a criança cresça.

Libertando, nossa querida Pátria, Brasil!
Texto: Sônia Maria Trevizan - 20/01/2011


A Cabanagem (1835-1840)


Foi uma revolta na qual, negros, índios e mestiços se insurgiram contra a elite política e tomaram o poder na então província do ]grão-Pará (Brasil). Entre as causas da revolta encontram-se a extrema pobreza das populações ribeirinhas e a irrelevância política à qual a província foi relegada após a independência do Brasil.
De cunho popular, contou com a participação de elementos das camadas média e alta da região, entre os quais se destacam os nomes do padre João Batista Gonçalves Campos, do jornalista Vicente Ferreira Lavor Papagaio.

Origem do nome

A denominação "Cabanagem" remete ao tipo de habitação da população ribeirinha, espécie de cabanas, constituída por mestiços, escravos libertos e indígenas.

História

Após a independência do Brasil, a província do Grão-Pará mobilizou-se para expulsar as forças reacionárias que pretendiam manter a região como colônia de Portugal. Nessa luta, que se arrastou por vários anos, destacaram-se as figuras do cônego e jornalista João Batista Gonçalves Campos, dos irmãos Vinagre e do fazendeiro Félix Clemente Malcher. Formaram-se diversos mocambos de escravos foragidos e eram frequentes as rebeliões militares. Terminada a luta pela independência e instalado o governo provincial, os líderes locais foram marginalizados do poder. A elite fazendeira do Grão-Pará, embora com melhores condições, ressentia-se da falta de participação nas decisões do governo central, dominado pelas províncias do Sudeste e do Nordeste
Em julho de 1931 estourou uma rebelião na guarnição militar de Belém do Pará, tendo Batista Campos sido preso como uma das lideranças implicadas. A indignação do povo cresceu e em 1833 já se falava em criar uma federação. O presidente da província, Bernardo Lobo de Souza, desencadeou uma política repressora, na tentativa de conter os inconformados. O clímax foi atingido em 1834, quando Batista Campos publicou uma carta do bispo do Pará, Romualdo de Souza Coelho, criticando alguns políticos da província. Por não ter sido autorizada pelo governo da Província, o cônego foi perseguido, refugiando-se na fazenda de seu amigo Clemente Malcher. Reunindo-se aos irmãos Vinagre (Manuel, Francisco Pedro e Antônio) e ao seringueiro e jornalista Eduardo Angelim reuniram um contingente de rebeldes na fazenda de Malcher. Antes de serem atacados por tropas governistas, abandonaram a fazenda. Contudo, no dia 3 de novembro, as tropas conseguiram matar Manuel Vinagre e prender Malcher e outros rebeldes. Batista Campos morreu no último dia do ano, ao que tudo indica de uma infecção causada por um corte que sofreu ao fazer a barba.

O movimento

Em 6 de janeiro de 1835, liderados por Antônio Vinagre, os rebeldes (tapuios, cabanos, negros e índios) tomaram de assalto o quartel e o palácio do governo de Belém, nomeando Félix Antonio Clemente Malcher presidente do Grão-Pará. Os cabanos, em menos de um dia, atacaram e conquistaram a cidade de Belém, assassinando o presidente Lobo de Souza e o Comandante das Armas, e apoderando-se de uma grande quantidade de material bélico. No dia 7, Clemente Malcher foi libertado e escolhido como presidente da província e Francisco Vinagre para Comandante das Armas. O governo cabano não durou muito tempo, pois o novo presidente, Félix Malcher - tenente-coronel, latifundiário e dono de engenhos de açúcar - era mais identificado com os interesses do grupo dominante derrotado, e é deposto em 19 de fevereiro de 1835, com o apoio das classes dominantes, que pretendiam manter a província unida ao Império do Brasil.
                                                                  Eduardo Angelim
Francisco Vinagre, Eduardo Angelim e os cabanos pretendiam se separar. O rompimento aconteceu quando Malcher mandou prender Angelim. As tropas dos dois lados entraram em conflito, saindo vitoriosas as de Francisco Vinagre. Clemente Malcher, assassinado, teve o seu cadáver arrastado pelas ruas de Belém.
Agora na presidência e no Comando das Armas da Província, Francisco Vinagre não se manteve fiel aos cabanos. Se não fosse a intervenção de seu irmão Antônio, teria entregado o governo ao poder imperial, na pessoa do marechal Manuel Jorge Rodrigues (julho de 1835). Devido à sua fraqueza e ao reforço de uma esquadra comandada pelo almirante inglês Taylor, os cabanos foram derrotados e se retiraram para o interior. Reorganizando suas forças, os cabanos atacaram Belém, em 14 de agosto. Após nove dias de batalha, mesmo com a morte de Antônio Vinagre, os cabanos retomaram a capital.
Eduardo Angelim assumiu a presidência. Durante dez meses, a elite se viu atemorizada pelo controle cabano sobre a província do Grão-Pará. A falta de um projeto com medidas concretas para a consolidação do governo rebelde provocou seu enfraquecimento. Diante da vitória das forças de Angelim, o império reagiu e nomeou, em março de 1836, o brigadeiro Francisco José de Souza Soares de Anréa como novo presidente do Grão-Pará, autorizando a guerra total contra os cabanos. Em fevereiro, quatro navios de guerra se aproximavam de Belém, prontos para atacar a cidade, tomada pela desordem, fome e varíola. No dia 13 de maio de 1836, o brigadeiro d'Andrea estacionou sua esquadra em frente a Belém e bombardeou impiedosamente a cidade. Os cabanos insurgentes escapavam pelos igarapés em pequenas canoas, enquanto Eduardo Angelim e alguns líderes negociavam a fuga
O brigadeiro d'Andrea, entretanto, julgando que Angelim, mesmo foragido, seria uma ameaça, determinou que seus homens fossem ao seu encalço. Em outubro de 1836, numa tapera da selva, ao lado de sua mulher, Angelim foi capturado, tornado prisioneiro na fortaleza da Barra, até seguir para o Rio de Janeiro. A Cabanagem, porém, não acabou com a prisão de Eduardo Angelim. Os cabanos, internados na selva, lutaram até 1840, até serem completamente exterminados (nações indígenas foram chacinadas; os murá e os mauê praticamente desapareceram).
Calcula-se que de 30 a 40% de uma população estimada de 100 mil habitantes morreu. Em 1833 o Grão-Pará tinha 119.877 habitantes; 32.751 eram índios e 29.977, negros escravos. A maioria mestiça ("cruzamento" de índios, negros e brancos) chegava a 42 mil. A minoria totalizava 15 mil brancos, dos quais mais da metade eram portugueses









A SABINADA

Entre 1831 e 1833, movimentos de caráter federalista eclodiram em alguns pontos da Província da Bahia. Esses movimentos expressavam o descontentamento não só em relação à política centralizadora do Rio de Janeiro, mas também um forte sentimento antilusitano, originado do fato de os portugueses controlarem quase que totalmente o comércio varejista, ocupando ainda cargos políticos, militares e administrativos.

Nos primeiros meses de 1831 manifestações contra os portugueses, considerados "inimigos" do povo, reivindicavam que fossem tomadas contra eles medidas que iam desde a deportação, até a proibição de andar armados, a demissão dos que exercessem emprego civil ou militar, e a extinção das pensões concedidas por D.João VI ou D. Pedro I.
A notícia da abdicação, em 7 de abril, fez com que os ânimos se acalmassem. Segundo o historiador Wanderley Pinho, "o Governo promoveu festas e proclamou ao povo (23 de abril), procurando esfriar o ardor antiportuguês da massa popular, ao lembrar ser o novo Imperador príncipe brasileiro de nascimento."
Mas logo novas manifestações ocorreram. Além dos pronunciamentos que pregavam o antilusitanismo, a indisciplina militar, a destituição de oficiais portugueses, a partir de outubro de 1831 passava-se a aclamar "a Federação". Iniciava-se a crise federalista.
Em 1833, o descontentamento em relação à política centralizadora do Rio de Janeiro podia ser percebido no ódio que os federalistas, defensores da autonomia provincial, devotavam a D. Pedro I e aos portugueses. No dizer de Wanderley Pinho, o sentimento contra os portugueses, a principiar por D. Pedro I, estava presente nos pronunciamentos e nos programas dos federalistas: "O ex-imperador, tirano do Brasil, será fuzilado em qualquer parte desta Província se acaso aparecer, e a mesma pena terão os que o pretenderem defender e admitir... ...todo cidadão brasileiro fica autorizado a matar o tirano ex-imperador D. Pedro I, como maior inimigo do Povo Brasileiro..."
Em 1837, com a renúncia do Regente Feijó, considerado incapaz de conter os movimentos contra o Governo Central, a insatisfação recrudesceu principalmente entre os militares e maçons da Província baiana. Todo o processo de instabilidade por que passava a Bahia, culminou com o início da Sabinada, revolta liderada pelo médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira. Ao contrário de outros movimentos do Período Regencial, não mobilizou as camadas menos favorecidas e nem conseguiu a adesão das elites da Província, sobretudo os grandes proprietários de escravos e de terras do Recôncavo.

A Sabinada contou com a participação dos representantes das camadas médias da população, que desejavam manter a autonomia provincial conseguida com o Ato Adicional de 1834, e que, sob a Regência Una de Araújo Lima, via-se ameaçada pela Lei Interpretativa que retirava as liberdades concedidas anteriormente aos governos provinciais. A revolta foi precedida por uma campanha desencadeada através de artigos publicados na imprensa, de panfletos distribuídos nas ruas, e de reuniões em associações secretas como a maçonaria.
O estopim da rebelião foi a fuga de Bento Gonçalves, chefe da Farroupilha, do Forte do Mar, atual Forte São Marcelo em Salvador, onde estava preso. Em novembro de 1837, os militares do Forte de São Pedro rebelaram-se, conseguindo a adesão de outros batalhões das tropas do Governo. Sob a liderança de Francisco Sabino e de João Carneiro da Silva Rego, os sabinos, como ficaram conhecidos os revoltosos por causa do nome de seu líder principal, conseguiram controlar a cidade de Salvador, por quase quatro meses. O presidente da Província e outras autoridades, ao perceberem que não possuíam mais poder sobre as tropas, fugiram. Os sabinos proclamaram uma República, que deveria durar até que D. Pedro de Alcântara, o príncipe herdeiro, assumisse o trono brasileiro.

No entanto, a Sabinada ficou isolada em Salvador. Os revoltosos não conseguiram expandir o movimento, pois não possuíam o apoio de outras camadas da população. A repressão veio logo: no início de 1838, tropas regenciais chegaram à Bahia. Após o bloqueio terrestre e marítimo de Salvador, as forças do Governo invadiram e incendiaram a cidade, obrigando os rebeldes a saírem de seus esconderijos. Ajudadas pelos proprietários do Recôncavo, as tropas massacraram os sabinos. Os que escaparam foram severamente punidos por um tribunal que, por sua grande crueldade, ficou conhecido como "júri de sangue".




A BALAIADA
A PROVÍNCIA DO MARANHÃO ENTRE 1838 - 1841

Entre os anos de 1838 e 1841, a Província do Maranhão foi abalada por vários levantes que atingiram também a vizinha Província do Piauí. Esses levantes receberam o nome geral de Balaiada porque um dos seus líderes, Manuel Francisco dos Anjos, fabricante e vendedor de balaios, era conhecido pelo apelido de "Balaio Na época, a população total do Maranhão era de aproximadamente 200 mil habitantes, dos quais 90 mil eram escravos, além de uma grande massa de trabalhadores formada por sertanejos ligados à atividade pastoril e à lavoura. Nesse momento, o Maranhão enfrentava a crise da economia algodoeira. Após a Guerra da Independência dos Estados Unidos da América, o algodão, principal produto de exportação da Província, passou a sofrer a concorrência do algodão norte-americano que voltara a dominar o mercado internacional.
Na Província do Maranhão, como na do Grão-Pará, o reconhecimento da Independência não se fizera de modo pacífico. Ao contrário, provocara conflitos entre colonos e portugueses, possibilitando que a massa de trabalhadores, formada pelas camadas mais pobres da população, pegasse em armas nas lutas então travadas. No entanto, apesar da Independência, a realidade dessas massas não se modificara. Continuavam marginalizadas e afastadas do poder político e econômico.

A REVOLTA DOS BALAIOS

Durante o Período Regencial a situação continuou tensa. A política da Província era marcada por disputas entre os bem-te-vis, que se opunham aos governistas, chamados pejorativamente de cabanos. A Balaiada começou a partir dos choques entre esses dois grupos, mas em pouco tempo ganhou autonomia, tornando-se um movimento das massas sertanejas.
Segundo Caio Prado Júnior, "na origem deste levante, vamos encontrar as mesmas causas que indicamos para as demais insurreições da época: a luta das classes médias, especialmente urbana, contra a política aristocrática e oligárquica das classes abastadas, grandes proprietários rurais, senhores de engenho e fazendeiros, que se implantara no país."
O grupo bem-te-vi, nome tirado do jornal O Bem-te-vi, representava a população urbana que se opunha aos abusos dos proprietários de terras e aos comerciantes portugueses. Os conflitos entre bem-te-vis e cabanos agravaram-se após a votação da chamada "lei dos prefeitos", .pela qual os governantes locais, os prefeitos, passaram a ter poderes imensos, inclusive o de autoridade policial. Os cabanos, que estavam no poder, conseguiram maior controle da Província, nomeando seus partidários para o cargo de prefeitos, o que redundou em perseguição aberta aos bem-te-vis.
No Maranhão a insatisfação social era grande. Negros e mestiços constituíam a maior parte da população. Como aponta o historiador Arthur César Ferreira Reis, "Milhares de negros que fugiam aos maltratos dos senhores aquilombavam-se nas matas, de onde saíam para surtidas rápidas e violentas sobre propriedades agrárias." O movimento logo escapou do controle das camadas dominantes, transformando-se num levante dos setores mais humildes da Província.
O fato que costuma marcar o início da revolta ocorreu em dezembro de 1838, quando o vaqueiro Raimundo Gomes, um mestiço, conhecido como Cara Preta, passava pela Vila da Manga, levando uma boiada de seu patrão para vender em outro local. Na ocasião muitos dos homens que o acompanhavam foram recrutados e seu irmão aprisionado sob a acusação de assassinato. O recrutamento obrigatório, uma das armas de que o Governo dispunha para controlar a população, sempre foi muito impopular, visto que recaía basicamente sobre os menos favorecidos, obrigados a qualquer momento a servir nas forças policiais ou militares. Raimundo invadiu a cadeia libertando não só seu irmão como os outros presos. A guarda não reagiu. Ao contrário, aderiu.

A partir daí o movimento ampliou-se. A luta generalizou-se por toda a Província. Por onde passava, Raimundo ia conseguindo que mais gente o seguisse, inclusive os escravos negros, que formaram quilombos, dos quais o mais importante foi o comandado pelo negro Cosme. À frente de 3 mil escravos rebelados, Cosme, um antigo escravo, que se intitulava "Imperador, Tutor e Defensor das Liberdades Bem-te-vis", vendia títulos e honrarias a seus seguidores.
Em 1839, os balaios tomaram a Vila de Caxias, "a segunda cidade da Província em importância". Pelas ruas da Vila ouvia-se:

"O Balaio chegou!
O Balaio chegou.
Cadê branco!
Não há mais branco!
Não há mais sinhô!"

Os rebeldes organizaram-se em um Conselho Militar e formaram uma Junta Provisória, com a participação de elementos bem-te-vis da cidade. Uma delegação foi enviada à capital, São Luís, para entregar ao presidente da Província as propostas para a pacificação: anistia para os revoltosos, revogação da "lei dos prefeitos", pagamento das forças rebeldes, expulsão dos portugueses natos e diminuição de direitos aos naturalizados e instauração de processo regular para os presos existentes nas cadeias.
No entanto, o movimento, apesar de ter atingido a parte mais importante da Província, chegando mesmo a ameaçar São Luís, entrou em rápido declínio. Sem unidade, com muitas divergências entre seus chefes, sofreu ainda o afastamento dos bem-te-vis, que após tentarem tirar vantagens do movimento, dele se afastaram, aderindo à reação, com medo da radicalização das camadas mais pobres da população, que assumiram a liderança da revolta.
Não aceitando as exigências dos balaios, o Governo provincial solicitou ajuda aoRio de Janeiro. Em 1840, o Coronel Luís Alves de Lima e Silva, futuro Barão de Caxias, é nomeado para a presidência da Província, acumulando o comando das armas. À frente de 8 mil homens, e aproveitando-se habilmente das rivalidades entre os líderes balaios, Caxias em pouco tempo sufocou o movimento. No ano seguinte, em 1841, um decreto imperial concedeu anistia aos revoltosos sobreviventes. Ao entregar o Governo do Maranhão a seu substituto, em 13 de maio de 1841, Caxias dizia: "Não existe hoje um só grupo de rebeldes armados, todos os chefes foram mortos, presos ou enviados para fora da Província..."
A repressão à Balaiada marcou o início da chamada "política da pacificação", pela qual Caxias sufocou as agitações que ocorreram durante o Império







A GUERRA DOS FARRAPOS

A revolução separatista durou 10 anos no Brasil Imperial do século XIX.
O movimento foi deflagrado por causas político-econômicas como os altos impostos nas charqueadas, A escassez de moeda circulante no Rio Grande durante todo o período colonial, e o pagamento das dívidas do governo central na província. Politicamente, o principal motivo da insatisfação era a centralização do poder decisório na Corte, além da aceitação ampla das ideais liberais como o mais longo conflito civil da história nacional.

OS FARRAPOS

Este apelido foi dado aos rio-grandenses sublevados contra o Império do Brasil, por não disporem de uniformes e de equipamentos militares. Maltrapilhos, faltavam armas e botas. Muitos dos soldados, peões de estância e negros, traziam suas garruchas e adagas

OS IMPERIAIS

Os Imperiais governavam o Rio Grande do Sul, recebendo ordens do Império. Eram também chamados pelos Farrapos, de conservadores, restauradores, retrógrados, caramurus e galegos. Ocupavam os principais postos nos órgãos públicos e no exército.

AS ARMAS DOS FARRAPOS

Eram imbatíveis nos combates a cavalo e usavam trabucos, pistolas e espadas. A cavalaria utilizava principalmente a lança, empregava canhões e obuses tomados dos inimigos (ou fornecidos por uruguaios).
Os imperiais tinham o controle das águas, do Guaíba à Lagoa dos Patos (até a Barra de Rio Grande). Os revolucionários farrapos queriam navegar pelo oceano, tomar Laguna em Santa Catarina e fundar a República Juliana.
Garibaldi e Canabarro cortaram árvores em Camaquã, próximo ao rio, nas terras da Estância Cristal, onde Bento Gonçalves vivera alguns anos, e construíram os dois lanchões que seriam usados na invasão de Laguna - o Seival e o Farroupilha (ou Rio Pardo), e os conduziram até Capivari.
Foram construídos seis pares de rodas, três para sustentar cada lanchão e atreladas cem juntas de bois, requisitados junto aos fazendeiros locais. Era 17 de julho de 1839, a maré atingiu a altura desejada na barra do rio Tramandaí. O velho Carpinteiro - vento retalhador de barcos - fez das suas, pois o lanchão-capitânea Farroupilha, com Garibaldi e mais 14 sSalvaram-se por pouco, nadando até o Seival! Todos a postos, navegaram até Laguna, SC, onde Garibaldi comandou ataques em 22 de julho e 15 de novembro de 1839. [Leia um pouquinho mais sobre isso no diário de bordo do Phantasy, "De Porto Alegre a Palmares"soldados, foi à pique. 
Salvaram-se por pouco, nadando até o Seival! Todos a postos, navegaram até Laguna, SC, onde Garibaldi comandou ataques em 22 de julho e 15 de novembro de 1839. [Leia um pouquinho mais sobre isso no diário de bordo do Phantasy, "De Porto Alegre a Palmares".


PRINCIPAIS BATALHAS

Ocorrem 118 confrontos entre os farrapos e os imperialistas, com 59 vitórias para cada lado. Na verdade, não foi uma guerra nos moldes clássicos, já que o exército rebelde não estava organizado nos moldes convencionais. Suas táticas mais se assemelhavam às guerrilhas.
Os números de mortes em combates não são precisos, mas, em 1881 o Governo Imperial deu publicidade aos fatos, divulgando informações sobre a Revolução Farroupilha.
A estimativa é de que morreram 3.400 homens. Os farrapos perderam quase que o dobro dos legalistas. 

Personagens
Bento Gonçalves da Silva
(1788-1847) - Nasceu no atual município de Triunfo, a 23 de setembro de 1788. Seu pai era dono de vastas terras. Participou das campanhas contra os espanhóis (1811 e 1812) e a Argentina (1827), alistado nas forças brasileiras. Em 1814 casou-se com a uruguaia Caetana Garcia, com quem teve oito filhos. Morando em Cerro Largo, começou a ocupar cargos militares. Foi credenciado pelo Império a comandar o 29º Regimento de Milícias, tornando-se Tenente Coronel e Comandante do 39º Regimento de Milícias. Comandou a Revolução Farroupilha (1835 a 1845), tendo sido presidente da República Rio-grandense. Morreu em Pedras Brancas, no dia 18 de julho de 1847, tendo sido sepultado no cemitério do Cordeiro, no município de Camaquã.
  
Giuseppe Garibaldi, o Herói dos Dois Mundos

(1807-1882) - O guerreiro italiano conheceu Bento em 1837, no Rio de Janeiro. Construiu os barcos e atacou as embarcações a serviço do Império. Com ele, cerca de cinqüenta outros italianos, seus companheiros e como ele, refugiados políticos, também participaram da Guerra dos Farrapos. No Uruguai se casou com Anita. Esteve na Argentina, retornando para a sua Itália, lutando pela Unificação. Morreu em 1882, aos 75 anos.

David Canabarro

(1793-1867) - Nasceu David José Martins, a 22 de agosto de 1793, no atual município de Taquari. Mais tarde conhecido por David Canabarro. Lutou nas guerras contra o Uruguai e Argentina, ao lado de Bento.

Bento Manoel Ribeiro

(1783-1855) - Paulista de Sorocaba, veio para o Rio Grande com cinco anos de idade. Lutou contra o Urugai e Argentina..Morreu em Porto Alegre, como marechalde exército.
.
Domingos José de Almeida Souza Netto

(1801-1866) - Riograndino, Antonio de Souza Netto proclamou a independência do Rio Grande do Sul a 11 de setembro de 1836, fundando a República do Piratini
.

João Manoel de Lima e Silva

(1805-1837) - Tio de Duque de Caxias. Lutou na Bahia e Pernambuco.Era major do Império, mas aderiu à causa dos farrapos. Ferido e morto em combate com apenas 35 anos.

João Antonio da Silveira

(1795-1872) - Nasceu em Rio Pardo e lutou nas guerras contra o Uruguai, Paraguai e Argentina. Aderiu à causa farrapa, levando inúmeros voluntários.

Cronologia da Guerra

1835

Aqui na Fazenda das Pedras Brancas começou o levante para a criação da República do Pampa. O cipreste resiste ao tempo.
A cidade tinha nesta época - 1830 - entre 12 e 15 mil habitantes, cinco igrejas, uma alfândega, dois quartéis, um hospital, um asilo de pobres e uma cadeia, diversos jornais. À noite, as ruas eram iluminadas com candeeiros que utilizavam óleo de peixe.
O ataque a Porto Alegre foi articulado na Fazenda das Pedras Brancas, de propriedade de José Gomes Jardim, primo de Bento Gonçalves, onde hoje é o centro de Guaíba.
Cerca de 100 rebeldes tomaram pequenos barcos e partiram da praia da Alegria na madrugada do dia 18 para o dia 19 de setembro de 1835. Era preciso atravessar o Guaíba na altura do Porto das Pedras Brancas sem que uma canhoneira imperial percebesse a manobra.
Concentrados no morro da Azenha, os rebeldes farroupilhas invadem Porto Alegre na madrugada de 20 de setembro - onde ficam até 15 de junho de 1836 - tomando nos meses seguintes Piratini, Rio Pardo e Rio Grande.
A importância da Marinha Imperial revelou-se desde cedo. Porto Alegre se manteve livre dos farrapos porque utilizavam as vias navegáveis - principalmente estuário do Guaíba e Lagoa dos Patos - para trazer tropas, mantimentos e equipamentos. E foi graças à ela que Bento Manoel conseguiu aprisionar Bento Gonçalves na Ilha do Fanfa, em 4 de outubro de 1836.
Depois da retomada da cidade pelos legalistas, Porto Alegre enfrentou mais três sítios, feitos a partir de Viamão, em junho e julho de 1836, depois de 1837 até 1840, em meses alternados.


1836

Os imperiais expulsam os farroupilhas de Porto Alegre, mas o cerco continuou por mais quatro anos. Antonio de Souza Netto, no dia 11 de setembro proclama em Seival, a independência do Rio Grande do Sul e a sede da república é instalada em Piratini. Bento Gonçalves é preso na batalha da Ilha do Fanfa, no rio Jacuí, próximo de Triunfo e é levado para a Bahia.
Declaração da República Rio-grandense. Òleo do acervo do Governo do RS ilha  do Fanta e a Revolução Farroupilha.
 Os dois primeiros anos de combates da Revolução Farroupilha - que duraria dez anos - entre as tropas legalistas e federalistas, tiveram como cenário as margens do Rio Jacuí e Lago Guaíba como estratégia para a tomada de Porto Alegre.
Triunfo, terra de nascimento do general Bento Gonçalves, foi palco de várias batalhas e a mais sangrenta delas ficou conhecida como Combate do Fanfa. Teve início na tarde do dia 02 de outubro de 1836. Bento Gonçalves acampou na Ilha do Fanfa (mapa) com mil e quinhentos homens. Tinha como meta encontrar a brigada do coronel Domingos Crescêncio, na margem direita do


Rio Jacuí.

A esquadra do almirante Greenfell encurralou Gonçalves, ao mesmo tempo que a artilharia abria fogo de terra..
O combate encerrou na tarde do dia 4 de outubro, com a rendição de Bento Gonçalves para o comandante Bento Manoel Ribeiro, com baixa de duzentos soldados feridos, cento e vinte mortos. Foram presos, ainda, Onofre Pires, Marciano Ribeiro, Pwdro Boticário, José Calvet e outros.


Ilha do Fanfa e a Revolução Farroupilha
Os dois primeiros anos de combates da Revolução Farroupilha - que duraria dez anos - entre as tropas legalistas e federalistas, tiveram como cenário as margens do Rio Jacuí e Lago Guaíba como estratégia para a tomada de Porto Alegre.
Triunfo, terra de nascimento do general Bento Gonçalves, foi palco de várias batalhas e a mais sangrenta delas ficou conhecida como Combate do Fanfa. Teve início na tarde do dia 02 de outubro de 1836. Bento Gonçalves acampou na Ilha do Fanfa (mapa) com mil e quinhentos homens. Tinha como meta encontrar a brigada do coronel Domingos Crescêncio, na margem direita do Rio Jacuí.
A esquadra do almirante Greenfell encurralou Gonçalves, ao mesmo tempo que a artilharia abria fogo de terra.
O combate encerrou na tarde do dia 4 de outubro, com a rendição de Bento Gonçalves para o comandante Bento Manoel Ribeiro, com baixa de duzentos soldados feridos, cento e vinte mortos. Foram presos, ainda, Onofre Pires, Marciano Ribeiro, Pedro Boticário, José Calvet e outros.
"Origens do Rio Grande", ZH, 04 dez 1996. 
Observe a Ilha do Fanfa no mapa abaixo (quase 40km do porto de Porto Alegre) 

1837

Carta de coros para Garibaldi Giuseppe Garibaldi, italiano, recebeu a carta de corso - autorização do governo Farroupilha para atacar, de barco, navios e propriedades inimigas, apossando-se de seus bens. Recebeu o posto de capitão-tenente e foi determinado que coordenasse o armamento de dois lanchões que estavam sendo construídos no estaleiro farroupilha em Camaquã. Cada um deles, depois de pronto, tinha duas peças de bronze e tripulação de 35 homens. Garibaldi comandou um e John Griggs, americano enganjado na luta, o outro.  
Com estes dois barcos ele iniciou sua guerra de corso na Lagoa dos Patos. Como eram embarcações pequenas, podendo transpor os bancos de areia que dificultava a navegação dos navios de maior porte da Marinha Imperial, Garibaldi agia rápido e atacava as estâncias de legalistas que estavam nas margens da lagoa, passando a mão nos cavalos, mantimentos, etc.

A fuga de Bento

Em 10 de setembro Bento foge do Forte do Mar, na Bahia, onde se encontra aprisionado.

1838
Rio Pardo

Depois de violentos combates, os farroupilhas dominam Rio Pardo em 30 de abril. “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”
O maestro Joaquim José de Mendanha compõe a música, e Francisco Pinto da Fontoura a letra do Hino da República Rio-grandense, a pedido dos rebeldes.
"Povo que não tem virtude acaba por ser escravo"O maestro Joaquim José de Mendanha compõe a música, e Francisco Pinto da Fontoura a letra do Hino da República Rio-grandense, a pedido dos rebeldes.

Hino Rio-grandense

Como a aurora precursora
Do Farol da divindade,
Foi o Vinte de Setembro
O precursor da liberdade.
Mostremos valor constância,
Nesta ímpia e injusta guerra.
Sirvam nossas façanhas
De modelo à toda a terra, 
De modelo à toda a terra 
Sirvam nossas façanhas
De modelo à toda a terra.
Mas não basta p’ra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo
Mostremos valor constância,
Nesta ímpia e injusta guerra.
Sirvam nossas façanhas
De modelo à toda a terra, 
De modelo à toda a terra 
Sirvam nossas façanhas
De modelo à toda a terra.


Efetivos farrapos
Calculava-se em seis mil homens os efetivos dos Farrapos neste ano, estando em Viamão de 1.500 a 1.600 homens. Bagé deveria ter mais uns 400 homens, comandados por Antonio Neto. Domingos Crescêncio comandava mais outros 600 perto de Piratini. Na região da Campanha, mais 500 eram comandados por Bento Manoel e David Canabarro. Vários grupos dispersos estavam espalhados pelo território.

Forças legalistas

As forças legais tinham também seis mil homens, contando os da Marinha.

1839
A sede da república é instalada em
 julho, Garibaldi e sua tropa transportam dois lanchões - o Seival e o Farroupilha, por terra, tracionados por cem juntas de bois, até o Rio Tramandaí. Um dos barcos naufraga no mar e Garibaldi nada até o Seival que se encontrava próximo, para se salvar. O Seival chega a Laguna, SC, para ajudar David Canabarro que atacava por terra, a proclamar a República Juliana, irmã gêmea da República Rio-grandense,um dos mais arrojados planos militares.
Para realizar todas estas façanhas, Garibaldi colocou em execução um dos mais arrojados planos militares já idealizados em qualquer época.
Como as embarcações farroupilhas estavam cercadas pela Marinha Imperial na Lagoa dos Patos, que dominava a entrada e a saída, ele deslocou os seus lanchões mais leves, o Farroupilha e o Seival, por terra.
"Não existe a menor dificuldade na expedição por mar a Laguna. Mande-me o general alguns carpinteiros e a madeira necessária para a construção de quatro grandes rodados e cem juntas de bois carreiros para a tração das rodas, e eu farei transportar os lanchões até Tramandaí, se Deus quiser", disse Garibaldi numa reunião do alto comando farroupilha. Os dois lanchões foram levados por Garibaldi até cerca de dois quilômetros adentro do Rio Capivari, antes de sua foz na Lagoa do Casamento, e em menos de sete dias comandou a montagem dos rodados e das pranchas sobre as quais os lanchões foram colocados para serem movimentados por terra até Tramandaí..Eles foram puxados cada um por juntas de cem bois.    
Alguns reparos que não levaram três dias e os lanchões foram para água, no Rio Tramandaí. Entre o Rio Capaviri e o rio Tramandaí, através de campos, areias e banhados, foram percorridos cerca de cem quilômetros nos dias 5 de junho pela manhã e à tardinha do dia 11. Os legalistas não suspeitavam de nada. Para quem vai de Porto Alegre em direção a Capivari, há um marco logo depois da ponte sobre o Rio Capivari, à esquerda

1840

São José do Norte é atacada por Bento, Garibaldi e mais 1200 homens. Os 600 combatentes da vila repelem o ataque. Baixas de 630 pessoas, entre mortos e feridos de ambos os lados. Termina em dezembro o sítio a Porto Alegre.

1841

Garibaldi abandona a Província e a revolução e vai embora com a sua Anita (a
Catarinense Ana de Jesus Ribeiro).
Porto Alegre recebe do Governo Imperial, em outubro, o título de "Leal e Valorosa" por ter rechaçado os Farrapos.


1842

Os farroupilhas se desorganizatam, mimados por intrigas.
O Império se fortalece. O vice-presidente da República, Antonio Paulo da
Fontoura é assassinado em Alegrete. Nesta época os imperiais contavam com oito mil homens, crescendo sempre com contingentes enviados do centro do país.
No final deste ano Caxias iniciou sua campanha com 12 mil soldados, munição à vontade, e bem equipados. Era mais do que a metade da força militar total do País calculada nesta época em 21968 soldados. Os legalistas controlavam toda a orla marítima e toda a linha de navegação fluvial, desde a Lagoa Mirim até as imediações da Cachoeira, no Jacuí, e os pontos acessíveis aos navios de guerra nos rios Taquari, Cai e dos Sinos. Os farrapos tinham agora somente 3.500 homens, mostrando sua superioridade tática.

1843

A sede da República Rio-grandense é instalada em Alegrete, em julho.

1844

Ferido mortalmente em duelo - por questões de honra - com Bento Gonçalves, morre cinco dias depois Onofre Pires da Silveira Canto. Outros revezes acontecem aos farrapos. No final do ano as negociações de paz continuam adiantadas.

1845

O Barão de Caxias, marechal Luiz Alves de Lima e Silva, líder do Império, anuncia o fim da Guerra dos Farrapos. Era primeiro de março.
"Rio-grandenses ! É sem dúvida para mim de inexplicável prazer ter de anunciar-vos que a guerra civil, que por mais de nove anos devastou esta bela provincia está terminada as hostilidades cessaram totalmente no dia 21.

Semana Farroupilha

A Semana Farroupilha nasceu com o Movimento Tradicionalista Gaúcho, em l947, que teve sua primeira chama acesa neste ano. Liderados por Paixão Cortes, tradicionalista gaúcho, um grupo de estudantes do Colégio Julinho, na Capital, fundou o Departamento de Tradições Gaúchas. No ano seguinte, o mesmo grupo criou o 35 Centro de Tradições Gaúchas. Outros CTGs nasceram em todo o Rio Grande, espalhando-se por vários estados brasileiros.. Em l964 foi oficializada a Semana Farroupilha no Rio Grande, que pela lei se comemora de 14 a 20 de setembro de cada ano, em homenagem à memória do Herói Farroupilha, uma reunião de manifestações artístico-culturais chamada Mostra da Cultura Gaúcha.

Fontes:
Viva no sul, nº 23.
A Revolução Gaúcha, ZH Especial, 20 set 2001/ Guerra dos Farrapos, os 10 anos que abalaram o Império/ Origens do Rio Grande, 04 dez 1990
Jornal do Comércio, 20 de setembro de 1982.
Correio do Povo, 20 de setembro de 1995.
Pesquisas, compilações e textos (parte) Aldo Publicado em 11 de setembro de 2003.



REVOLTA PRAIEIRA
A Revolta Praieira, também denominada como Insurreição Praieira, Revolução Praieira ou simplesmente Praieira, foi um movimento de caráter liberal e separatista que eclodiu na Província de Pernambuco, no Brasil, entre 1848 e 1950.

Contexto

A Última das revoltas provinciais, está ligada às lutas político-partidárias que marcaram o Período Regencial e o início do Segundo Reinado. Sua derrota representou uma demonstração de força do governo de D.Pedro II (1840-1889).
De forma global, inscreveram-se no contexto das Revoluções socialistas e nacionalistas que varreram a Europa neste período do século XIX, incluindo a Revolução de 1848 na França que promoveu a extinção do Absolutismo no país.
O nível local foi influenciado pelas idéias liberais dos que se queixavam da falta de autonomia provincial, sendo marcada pelo repúdio à monarquia, com manifestações a favor da independência política, da república e por um reformismo radical.
Com fundo social, econômico e político, contou com a participação das camadas menos favorecidas da Província de Pernambuco, oprimidas pela grande concentração fundiária nas mãos de poucos proprietários. Como exemplo, uma quadra popular à época, refere à poderosa família Cavalcantii:

"Quem viver em Pernambuco
não há de estar enganado:
Que, ou há de ser Cavalcanti
ou há de ser cavalgado." (Quadra popular)

Ainda como fundo sócio-econômico, registra-se a histórica rivalidade com os portugueses, que dominavam o comércio na Província.

A luta

A revolta teve como causa imediata a destituição, por D. Pedro II, do Presidente da Província Antônio Pinto Chichorro da Gama (1845-1848), representante dos liberais. Durante quatro anos à frente do poder, Chichorro da Gama combatera o poder local dos gabirus, grupos mais poderosos da aristocracia latifundiária e mercantil, ligados ao Partido Conservador.
A substituição deste liberal pelo ex-regente Araújo Lima, extremamente conservador, foi o estopim para o início da revolução, que já acumulava insatisfação com a política imperial e dificuldades devido ao declínio da economia açucareira.
Os rebeldes queriam formar uma nova Constituinte para alterar a Constituição Brasileira de de 1824, visando a efetiva liberdade de imprensa (uma vez que esta estava limitada, extinguindo artigos que ferissem a família real ou a moral e os bons costumes), a extinção do poder moderador e do cargo vitalício de senador, além da nacionalização do comércio varejista, entre outras propostas.
Em abril de 1848, os setores radicais do Partido Liberal pernambucanos – reunidos em torno do jornal. Diário Novo, na Rua da Praia, no Recife, e conhecidos como praieiros – condenaram a destituição de Chichorro da Gama, interpretando esse gesto como mais uma arbitrariedade imperial.
A revolta contra o novo governo da Província eclodiu em Olinda, a 7 de setembro de 1848, sob a liderança do general José Inácio de Abreu e Lima, do Capitão de Artilharia Pedro Ivo Veloso da Silveira, do deputado liberal Joaquim Nunes Machado e do militante da ala radical do Partido Liberal, Antônio Borges da Fonseca. O Presidente nomeado da Província,Herculano Ferreira Pena, foi afastado e o movimento espalhou-se rapidamente por toda a Zona da Mata de Pernambuco.
A sua primeira batalha foi travada no povoado de Maricota (atual cidade de Abreu e Lima).
Em 1 de janeiro de 1849, os revoltosos lançaram o seu programa, um documento que denominaram Manifesto do Mundo, de conteúdo socialista utópico, supostamente escrito por Borges da Fonseca, um jornalista. O manifesto ao defendia:
§                     o voto livre e universal do povo brasileiro;
§                     a plena e absoluta liberdade de comunicar os pensamentos por meio da imprensa (liberdade de imprensa);
§                     o trabalho, como garantia da vida para o cidadão brasileiro;
§                     o comércio a retalho só para os cidadãos brasileiros;
§                     a inteira e efetiva independência dos poderes constituídos;
§                     a extinção do Poder Moderador e do direito de agraciar;
§                     o elemento federal na nova organização
§                     a completa reforma do Poder Judiciário, de forma a assegurar as garantias dos direitos individuais dos cidadãos;
§                     a extinção da lei do juro convencional;
§                     a extinção do sistema de recrutamento militar então vigente.
Apesar do caráter liberal da revolução, os revoltosos não cogitavam a abolição da escravidão.
Depois de receber a adesão da população urbana que vivia em extrema pobreza, pequenos arrendatários, boiadeiros, mascates e negros libertos, os praieiros marcharam sobre o Recife em fevereiro de 1849 com quase 2.500 combatentes, mas foram rechaçados.
A repressão
A Província foi pacificada por Manuel Vieira Tosta, indicado como novo presidente, auxiliado pelo Brigadeiro José Joaquim Coelho, novo Comandante das Armas. As forças rebeldes foram derrotadas nos combates de Água Preta e de Iguaraçu.
Os líderes do movimento pertencentes à classe dominante, foram detidos e julgados apenas em 28 de novembro de 1857, quando os ânimos na província já tinham serenado, ocasião em que o governo imperial pôde lhes conceder anistia. Voltaram, assim, a ocupar os seus cargos públicos e a comandar os seus engenhos.
Por outro lado, os rebeldes das camadas sociais menos privilegiadas - rendeiros, trabalhadores e outros - não tiveram direito a julgamento e, ou sofreram recrutamento forçado ou foram anistiados por intervenção de seus superiores para retornarem ao trabalho, exceto aqueles que foram sumariamente fuzilados durante e logo após os combates.

Conseqüências

Com o fim da Praieira no início de 1850, iniciou-se a segunda fase do Segundo Reinado, um período de tranquilidade política, fruto do Parlamentarismo e da Política de Conciliação implantados por D. Pedro II, e da prosperidade trazida pelo café.
É importante lembrar que, apesar de a revolução ter sido liderada por liberais, ela ainda não tinha caráter essencialmente republicano: apenas alguns de seus participantes apoiavam a proclamação da República.
Fonte de pesquisa: Revista Novo Conhecer - 1977                    1
2

Guerra de Canudos  (1896/97)

A República se impõe ao sertão a ferro e fogo


A derrubada da monarquia –sem derramamento de sangue- provocou reações anti-republicanas. Em 1891 foi aprovada uma nova Constituição, tornando o Brasil uma república federativa e presidencialista no modelo estadunidense. Separou-se o Estado da Igreja e ampliou-se o direito de voto (permitiu-se que todo cidadão alfabetizado pudesse tornar-se cidadão).
Nesses 1889, o Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, autorizou um aumento de 75% na emissão de papel-moeda nacional procurando estimular o crédito, mas o efeito foi negativo originando-se um clima de especulação e de multiplicação de empresas sem lastro, conhecido isto como “encilhamento”. Em meio de muitos protestos, o Presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca, herói na Guerra do Paraguai, fechou o Congresso Nacional. A Marinha de Guerra rebelou-se exigindo e conseguindo a renúncia presidencial, sendo substituído pelo vice-presidente, Marechal Floriano Peixoto, líder da oposição, quem anulou o decreto de dissolução do Congresso trocando os governadores que apoiaram a Fonseca.
Em fevereiro de 1893, estourou no Rio Grande do Sul a Revolução Federalista, quando maragatos ficam contra o governo, conduzindo o Estado a uma dolosa guerra civil. Logo ocorreram outros levantes, em um deles Rio de Janeiro foi bombardeado. Finalmente, as lutas terminaram com a morte do líder maragato em 1894. A guerra gaúcha tinha produzido mais de 12 mil mortos. Nesse clima, o paulista, Doutor Prudente de Morais, assumiu a Presidência da Primeira República, no governo de Pudente de Moraes, o interior do Nordeste brasileiro foi palco de um dos maiores conflitos social, envolvendo a luta das populações pobres pela posse da terra. As principais causas deste conflito, que desencadeou a Guerra de Canudos, estão relacionadas às condições sociais e geográficas da região. As características geográficas e as condições sociais do Nordeste brasileiro formavam um conjunto de fatores geradores de um estado de permanente conflito e revolta social. Toda aquela região era composta de latifúndios improdutivos, que eram grandes extensões de terra pertencentes a poucos proprietários.
Antônio Vicente Mendes Maciel nasceu, no estado de Ceará, em 1830. Sua mãe morreu quando ele era uma criança e seu pai era alcoólatra. Teve uma família numerosa mais a maioria morreram na luta entre as famílias Maciéis e Araújo. Estudou latim, português, aritmética, geografia e francês com seu avô. O jovem Antônio, casado aos 25 anos, pai de dois filhos, trabalhador (foi negociante, professor, balconista e rábula) era muito bem conceituado em Quixeramobim, sua cidade. Mas sua esposa iniciou uma relação amorosa com um furriel da polícia local, e sua vida mudou. Abandonou tudo e se retirou  à Fazenda Tamboril dedicando-se ao magistério e a estudar os textos bíblicos. Peregrinou por todo o Nordeste, conhecendo palmo a palmo do sertão, que é uma região agreste, distante das povoações ou das terras cultivadas, mais secas do que a caatinga, onde perduram tradições e costumes antigos. Lá, conhecido por Antônio dos Mares, fez sermões, pregou o evangelho e deu conselhos.

Ele foi transformando-se de peregrino a beato, de beato a conselheiro. Baixinho (1,60 mts), magro, tez morena, olhos negros, nariz aquilino, mãos e pés pequenos, brim comprido que lhe chegava aos pés, alpercatas, chapéu de palha, um cajado nas mãos, deixou crescer seu cabelo e a barba. Sua aparência assemelhou-se aos profetas bíblicos, parecia uma personagem saída diretamente das Velhas Escrituras. Assim que foi formando em torno de um número crescente de fiéis seguidores. Em 1876 foi preso em Salvador, sendo acusado de assassinato. A notícia apareceu como destaque dos principais jornais de Salvador. Foi enviado a Quixeramobin onde foi provada sua inocência. Retornou ao sertão da Bahia onde prometeu construir reservatórios de água, vinte e cinco igrejas e cemitérios em lugares esquecidos e abandonados. O enterro era um rito extremadamente importante para a sociedade sertaneja; algumas vezes as famílias chegavam a vender quase todos os seus pertences só para pagar o enterro de um ente querido. No ano seguinte, iniciou se uma grande seca que durou dois anos provocando 300 mil mortos. O Conselheiro falava todos os dias para os pobres famintos, e esse comportamento desagradava à Igreja, que não via com bons olhos o crescimento do arraial. Então, designou sacerdotes para elaborar relatórios sobre o movimento do beato Conselheiro, quem ministrava sacramentos e orientava moral e religiosamente. Conclusão: em 1882, o arcebispo de Salvador enviou aos vigários de todo o Estado uma circular proibindo as pregações de Antônio Conselheiro em sua
Assinada pela princesa Isabel a Lei da Abolição da Escravatura, chamada Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, provoca uma comoção: mais de 9 milhões de africanos tinham sido trazidos à força para o Brasil, o penúltimo país do mundo ocidental a abolir a escravidão negra. Os ex escravos, chamados 13 de maio, não encontraram trabalho, e decidiram acompanhar o Conselheiro. Em 15 de novembro de 1889 foi proclamada a Republica, pelo quais novas medidas entraram em vigor: a separação entre o Estado e a Igreja, o casamento civil, a laicização dos cemitérios e a cobrança de impostos. O séquito liderado por o Conselheiro era cada vez maior quase dezoito mil. Os fazendeiros da região sentiram-se ameaçados com o crescimento do grupo e solicitaram a intervenção de autoridades locais.
Em 1893, o Conselheiro liderou um movimento que destruiu, em Natuba, os editais republicanos de cobrança de impostos. As autoridades enviaram uma força militar composta de 30 soldados que fugiram ao perceber o número de conselheiros. Estes, para evitar problemas, abandonaram o Vale de Itapicuru, centro de suas atividades, em busca da Terra Prometida. Meses depois, isolaram se em Canudos, um lugar paupérrimo, e o rebatizaram de Monte Santo. Não se bebia álcool em Canudos e, o maior delito era não comparecer as rezas coletivas. O Conselheiro tinha formado um pequeno Estado dentro do Estado. 


Em 1896, quase dois mil sertanejos partiram a Juazeiro para adquirir madeira e cal para a construção de outra igreja (já tinham construído doze). O pagamento tinha sido antecipado, mas, no prazo estabelecido, a madeira não estava para sua entrega. Então, os habitantes de Juazeiro tiveram medo e entraram em contato com autoridades do governo da Bahia, solicitando reforço militar para Juazeiro, dando origem a Guerra de Canudos.
Ameaçados, os fiéis do Bom Jesus, atacaram de surpresa à expedição de cem soldados, que bateram em retirada. Os conselheiros tinham apenas garruchas, cacetes e espingardas de caça. Uma nova expedição militar foi formada para vingar a primeira, e acabou sendo também derrotada. Chegou ao Rio de Janeiro a notícia da derrota, em mãos dos jagunços, e Canudos tornou-se questão nacional, envolvendo o próprio Presidente da República, Doutor Prudente de Morais. Os sertanejos eram vistos como fonte de mal e anarquia, seu líder como um desajustado mental. Os intelectuais cariocas e paulistanos, junto aos militares alagoenses, acharam que era necessário extirpar à seita do Conselheiro. O jornal O Estado do São Paulo decidiu enviar ao jornalista e engenheiro fluminense Euclides da Cunha a Canudos como corresponsvel.. Ele desembarcou do vapor Espírito Santo em Salvador, Bahia, em 7 de agosto de 1897, chegando a Canudos em 1º de setembro e ficando até 3 de outubro, dois dias antes do final da guerra.  
Chegou a terceira expedição militar, comandada pelo Coronel Moreira César, mas fracassou. A quarta e última expedição teve outra organização. Comandada pelo General Artur Oscar levou cinco mil soldados e artilharia pesada. No terceiro mês de luta, Antônio Conselheiro morreu de disenteria. Foi enterrado pelos jagunços e a luta continuou mais um mês. Finalizada a luta os soldados descobriram o local onde Antônio Conselheiro tinha sido enterrado. Tiraram o corpo da cova, tiraram algumas fotos e cortaram sua cabeça. Ela foi levada até Salvador para ser estudada.

Os coronéis e a seca

Esses grandes proprietários agrários, também conhecidos como coronéis, mantinham uma enorme massa de sertanejos em condições de absoluta miséria. Como não possuíam terras, os sertanejos eram obrigados a aceitar as péssimas condições de trabalho impostas pelos coronéis. A situação de miséria dessas populações era agravada pelas condições do clima da região.
O nordeste brasileiro sofria com as secas, que assolavam toda a região, acabando com as plantações de alimentos, matando as criações de animais e secando os reservatórios de água. Todos os anos, a fome e a sede matavam milhares de sertanejos. 

anditismo, fanatismo e conflito social

As condições de miséria das populações que habitavam o interior do Nordeste brasileiro favoreciam a ocorrência de conflitos e revoltas sociais. Os sertanejos formavam bandos de cangaceiros que aterrorizam as populações locais e atacavam as fazendas dos coronéis, roubando tudo que podiam.
O cangaço era uma das formas mais comuns de luta contra a miséria e a fome. O emprego da violência de forma rotineira e de caráter vingativo, são as marcas do cangaço.
Essas condições também favoreciam o surgimento de líderes religiosos, conhecidos na região como beatos ou conselheiros. Pregando a salvação da alma, esses religiosos mobilizavam seguidores e formavam comunidades. Movimentos populares de caráter religioso eram uma outra forma primitiva de contestar e lutar contra a miséria e a fome. Eles se contrapunham ao catolicismo conservador vigente, e por esse motivo não eram bem vistos pela Igreja.

Canudos e o Conselheiro

A história de Canudos começa por volta de 1893. Nesta época, no arraial de Canudos, no vale do rio Vaza-Barris, no interior da Bahia, reuniu-se um grupo de fiéis seguidores do beato Antônio Conselheiro, que pregava a salvação e dias melhores para quem o seguisse. Em 1896 o arraial já possuía cerca de 15 mil sertanejos que viviam de modo comunitário. Sobreviviam com a criação de
de animais e plantações.
Tudo era dividido entre os habitantes e o que sobrava era comercializado nas cidades vizinhas. Desse modo, conseguiam obter os bens e produtos que não eram produzidos no local. Para se protegerem, os habitantes de Canudos organizaram grupos armados. Foi assim que, em poucos anos o arraial de Canudos se firmou na região como um contestado, passando a reunir cada vez mais sertanejos que lutavam para mudar suas condições de vida fugindo da miséria e dominação dos grandes latifundiários.

A Guerra de Canudos

O rápido crescimento da comunidade de Canudos passou a incomodar os coronéis locais e a Igreja católica. Os latifundiários perdiam mão-de-obra enquanto a Igreja perdia seus adeptos. O arraial de Canudos passou a ser alvo de inúmeras criticas.
Padres e coronéis faziam pressão para que o governador da Bahia acabasse com Canudos. Na imprensa, os intelectuais e jornalistas condenavam os habitantes da comunidade sob a acusação de quererem restabelecer o regime monárquico e chamando os sertanejos de bandos de "fanáticos" e "degenerados".
O governo da Bahia organizou expedições militares para destruir Canudos. A primeira, comandada pelo tenente Manuel Pires Ferreira, foi composta por 120 homens e terminou sendo vencida pelos fiéis de Antônio Conselheiro, que estavam sob o comando de Pajeú e João Abade. A Segunda expedição, foi composta por 500 homens e foi chefiada pelo major Febrônio de Brito, mas também foi derrotada.
Terceira derrota
Diante do fracasso, foi organizada uma terceira expedição militar composta por 1.200 homens, sob chefia do coronel Moreira César - considerado pelos militares um herói do exército brasileiro. Ainda assim, a expedição foi vencida, e o coronel foi morto em combate. Com a terceira derrota, a resolução do problema passou para a competência do governo federal. O ministro da Guerra, Carlos Bittencourt, preparou uma quarta expedição que foi composta por 6 mil homens e chefiada pelo general Artur Oscar.
Fortemente armados, os soldados cercaram por três meses o arraial de Canudos, que sofreu forte bombardeio e depois foi invadido. O arraial foi completamente destruído a 5 de outubro de 1897. Os sertanejos de Canudos, homens, mulheres, velhos e crianças, foram massacrados pelos soldados, que tinham ordens para não fazer nenhum prisioneiro. 

A destruição de Canudos

O presidente Prudente de Moraes comemorou a vitória das tropas militares. Mas pouco a pouco, começaram a surgir críticas provenientes de políticos, intelectuais e de diversos setores da sociedade, sobre a necessidade do uso de tamanha violência contra os habitantes de Canudos. A Guerra de Canudos passou para história como o grande massacre da população pobre e humilde do Nordeste brasileiro.
O famoso escritor Euclides da Cunha, que na época acompanhou o conflito armado na condição de jornalista, como correspondente de "O Estado de S. Paulo", retratou o episódio em sua obra "Os Sertões". Nela, ele apresenta uma contundente denúncia sobre o massacre dos sertanejos de Canudos, retratando-os como bravos heróis que resistiram até o fim.

A Guerra do Contestado (1912-1916)
Povoamento e Disputa

A ocupação do planalto serrano foi diferente da do litoral catarinense na sua composição de recursos humanos. As escarpas serranas, densamente cobertas pela Mata Atlântica, junto com os povos indígenas, representavam sérios obstáculos para o povoamento da região.
A ocupação se deu através do comércio de gado entre o Rio Grande do Sul e São Paulo já no século XVIII, fazendo surgir os primeiros locais de pouso. A Revolução Farroupilha e Federalista também contribuíram para o aumento de contingente humano, que buscavam fugir dessas situações beligerantes. Em 1853 começa a disputa de limites entre Santa Catarina e Paraná, quando este último se desmembra de São Paulo e firma posse sobre o oeste catarinense.
Com a constituição de 1891, é assegurada aos Estados o direito de decretar impostos sobre as exportações e mercadorias, como também indústrias e profissões, o que acirra ainda mais a questão dos limites, pois a região era rica em ervas.
Em 1904, Santa Catarina tinha ganho de causa perante o Supremo Tribunal Federal, mas o Paraná vai recorrer perdendo novamente em 1909 e 1910. Porém a discussão não finda por aqui, sendo resolvida em 1916 quando os governadores Felipe Schmidt (SC) e Afonso Camargo (PR), por intermédio do Presidente Wenceslau Bráz, assinam um acordo estabelecendo os limites atuais entre os dois estados.
Vale lembrar que essa disputa não tinha muita relevância na população, pois o poder era sempre representado pelos coronéis, tanto fazia pertencer a Santa Catarina ou ao Paraná.
A Guerra do Contestado foi um conflito que alcançou enormes proporções na história do Brasil e, particularmente, dos Estados do Paraná e de Santa Catarina. Semelhante, a outros graves momentos de crise, interesses político-econômicos e messianismo se misturaram ao contexto explosivo. Ocorrido entre 1912 e 1916, o conflito envolveu, de um lado, a população cabocla daqueles Estados, e, de outro, os dois governos estaduais, apoiados pelo presidente da República, Hermes da Fonseca.  
A região do conflito, localizada entre os dois Estados, era disputada pelos governos paranaense e catarinense. Afinal, era uma área rica em erva-mate e, sobretudo, madeira. Originalmente, os moradores da região eram posseiros caboclos e pequenos fazendeiros que viviam da comercialização daqueles produtos.

O poder dos monges

A figura dos monges teve valor fundamental para a questão do Contestado, sendo mais destacado o José Maria. O primeiro monge foi João Maria, de origem italiana, que peregrinou entre 1844 e 1870 quando morre em Sorocaba. João Maria levava uma vida extremamente humilde, e serviu para arrebanhar milhares de crentes, porém não exerceu influência nos acontecimentos que viriam a ocorrer, mas serviu para reforçar o messianismo coletivo.
O segundo monge, que também se chamava João Maria surge com a Revolução Federalista de 1893 ao lado dos maragatos. De começo vai mostrar sua posição messiânica, fazendo previsões a respeito dos fatos políticos. Seu verdadeiro nome era Atanás Marcaf, provavelmente de origem Síria. João Maria vai exercer forte influência sobre os crentes, que vão esperar pela sua volta após seu desaparecimento em 1908.
Essa espera vai ser preenchida em 1912 pela figura do terceiro monge: José Maria. Surgiu como curandeiro de ervas, apresentando-se com o nome de José Maria de Santo Agostinho. Ninguém sabia ao certo qual a sua origem, seu verdadeiro nome era Miguel Lucena Boaventura e, de acordo com um laudo da polícia da Vila de Palmas/PR, tinha antecedentes criminais e era desertor do exército.
Dentre as façanhas que deram fama ao monge José Maria, podemos destacar a ressurreição de uma jovem, provavelmente vítima de catalepsia, e a cura da esposa do coronel Francisco de Almeida, acometida por uma doença incurável. O coronel ficou tão agradecido que ofereceu terras e uma grande quantidade de ouro, mas o monge não aceitou, o que ajudou ainda mais a aumentar a sua fama, pois passou a ser considerado santo, que veio à terra apenas para curar e tratar os doentes e necessitados.
José Maria não era um curandeiro vulgar, sabia ler e escrever, anotando propriedades medicinais em seus cadernos. Montou a "farmácia do povo" no rancho de um capataz do coronel Almeida, onde passou a atender diariamente até tarde da noite.

                                                
As riquezas da região


A região planaltina vai exercer grande cobiça entre os Estados de Santa Catarina e Paraná, assim como para o Grupo Farquhar (Brazil Railway Company), como veremos adiante, apropriando-se do maior número de terras possíveis.
A vida econômica da região, durante muito tempo, vai girar em torno da criação extensiva de gado bovino, na coleta da erva mate e na extração de madeira, material empregado na construção de praticamente todas as residências. Os ervais encontravam seu mercado na região da Prata..
Nas terras dos coronéis os agregados e peões podiam servir-se das ervas sem qualquer proibição, porém quando o mate adquiriu valor comercial, os coronéis começaram a explorar a coleta abusiva do mate em suas terras.
Como região fornecedora de gado para a feira de Sorocaba e erva mate para os países do Prata, o planalto catarinense inseria-se economicamente em nível nacional, no modelo agrário-comercial-exportador dependente.

                                              
Brazil Railway Company

Com a expansão da área cafeicultora brasileira, surgiu a necessidade de se interligarem os núcleos urbanos com a região sulina, para que esta os abastecesse com produtos agro-pastoris. É criada então uma comissão para a construção de uma Estrada de Ferro para ligar esses dois pólos.
A concessão da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, iniciou com o engenheiro João Teixeira Soares em 1890, abandonando o projeto em 1908, transferindo a concessão para uma empresa norte-americana Brazil Railway Company, pertencente ao multimilionário Percival Farquhar, que além do direito de terminar a estrada, ganha também o direito de explorar 15 km de cada lado da estrada.
Farquhar cria também a Souther Brazil Lumber and Colonization Co., que tinha por objetivo extrair a madeira da região e depois comercializá-la no Brasil e no exterior. Além disso, a empresa ganha também o direito de revender os terrenos desapropriados às margens da estrada de ferro. Esses terrenos seriam vendidos preferencialmente aos imigrantes estrangeiros que formavam suas colônias no sul do Brasil.
A Brazil Lumber providencia a construção de duas grandes serrarias, uma em Três Barras, considerada a maior da América do Sul, e outra em Calmon, onde se dá início às devastação dos imensos e seculares pinheirais.

A construção da estrada de ferro
.
No final do século 19, o governo brasileiro autorizou a construção de uma estrada de ferro ligando os Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Para isso, desapropriou uma faixa de terra, de aproximadamente 30 km de largura, que atravessava os Estados do Paraná e de Santa Catarina - uma espécie de “corredor”por onde passaria a linha férrea.
A responsável pela construção foi a empresa norte-americana Brazil Railway Company, de propriedade do empresário Percival Farquhar, que também era dono da Southern Brazil Lumber and Colonization Company, uma empresa de extração madeireira. Para a construção do trecho que faltava da ferrovia, a empresa contratou cerca de 8000 homens da população urbana do Rio de Janeiro, Santos, Salvador e Recife, prometendo salários compensadores A construção da estrada acabou atraindo muitos trabalhadores para a região onde ocorreria a Guerra do Contestado. Com o fim das obras, o grande número de migrantes que se deslocou para o local ficou sem emprego e, conseqüentemente, numa situação econômica bastante precária.
Ao mesmo tempo, os posseiros que viviam na região entre o Paraná e Santa Catarina foram expulsos de suas terras. Isso porque, embora estivessem ali já há bastante tempo, o governo brasileiro, no contrato firmado com a Brazil Railway, declarou a área como devoluta, ou seja, como se ninguém ocupasse aquelas terras.
Além de construir a estrada de ferro, Farquhar, por meio da Southern Brazil Lumber, passou a exportar para os Estados Unidos a madeira extraída ao longo da faixa de terra concedida pelo governo brasileiro. Com isso, os pequenos fazendeiros que trabalhavam na extração da madeira foram arruinados pelo domínio da Lumber sobre as florestas da região.
Ao encerrar a construção da ferrovia, esses funcionários foram demitidos, sem ter para onde ir pois a empresa não honrou o acordo de levá-los de volta ao término do trabalho. Passam então a engrossar a população carente que perambulava pela região do Contestado.

Messianismo

A construção da estrada de ferro ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul trouxe consigo os principais elementos político-econômicos que levaram à eclosão da Guerra do Contestado. Afinal, a presença das empresas de Farquhar na região e os termos do acordo firmado com o governo brasileiro levaram, de uma só vez, à expulsão dos posseiros que trabalhavam no local, à falência de vários pequenos fazendeiros que viviam da extração da madeira e à formação de um contingente de mão-de-obra disponível e desempregada ao fim da construção.
Entretanto, havia também outro elemento importante para o início do conflito: o messianismo. A região era freqüentada por monges que faziam trabalhos sociais e espirituais e, vez ou outra, envolviam-se também com questões políticas - o que lhes dava certo destaque entre os moradores daquela localidade.
Em 1912, apareceu na região um monge chamado José Maria de Santo Agostinho, nome que mais tarde a polícia descobriria ser falso. José Maria foi saudado pelos habitantes do local como a ressurreição de outro monge que vivera ali até 1908, o monge João Maria: era como se o antigo líder espiritual tivesse voltado.  
José Maria rapidamente ganhou fama na região por seu suposto dom de cura. Em meio aos problemas político-econômicos provocados pelas atividades das empresas de Percival Farquhar, o monge passou a envolver-se também com questões que estavam muito além dos problemas espirituais dos seus seguidores.


A Guerra

A guerra inicia-se oficialmente em 1912, com o combate do Irani, que resultou nas mortes do monge José Maria e também do coronel João Gualberto, e vai até a prisão de Adeodato, último e mais destacado chefe dos fanáticos, em 1916. É também neste ano que é assinado o acordo de limites entre Santa Catarina e Paraná.
Durante esse período, podemos observar uma mudança nos quadros dos fanáticos com a adesão dos ex-funcionários da Brazil Railway Company. Junta-se também ao movimento um expressivo número de fazendeiros que começavam a perder terras para o grupo Farquhar e para os coronéis. Com essas mudanças o grupo vai tornar-se mais organizado, distribuindo funções a todos, utilizando também táticas de guerrilha.
No episódio em que José Maria monta sua "farmácia do povo" nas terras do coronel Almeida, cresce absurdamente sua popularidade, sendo convidado a participar da festa do Senhor do Bom Jesus, em Taquaruçu – município de Curitibanos. Atendendo ao convite, José Maria participa acompanhado de 300 fiéis, e ao terminar a festa José Maria continuou em Curitibanos atendendo pessoas que não tinham mais aonde ir. Curitibanos era uma cidade sob o domínio do coronel Francisco de Albuquerque que, preocupado com o acúmulo dos "fiéis" manda um telegrama para a capital, pedindo auxílio contra "rebeldes que proclamaram a monarquia em Taguaruçú", sendo atendido com o envio de tropas.
Diante dessa situação, José Maria parte para o Irani com toda essa população carente. Porém na época Irani pertencia a Palmas, sob controle do Estado do Paraná, que via nesse movimento de pessoas uma "estratégia" de ocupação por parte do Estado de Santa Catarina. Logo são enviadas tropas do Regimento de Segurança do Paraná, sob o comando do coronel João Gualberto, que junto com José Maria, morre no combate.
Terminada a luta com dezenas de mortos e com a vitória dos fanáticos, José Maria é enterrado com tábuas para facilitar a sua ressurreição, que aconteceria acompanhado de um Exército Encantado, ou Exército de São Sebastião. Os caboclos defendiam a Monarquia Celeste, pois viam na República um instrumento do diabo, dominado pelas figuras dos coronéis.
Em dezembro de 1913, organiza-se em Taquaruçú um novo reduto que logo reuniu 3000 crentes, que atenderam ao chamado de Teodora, uma antiga seguidora de José Maria que dizia ter visões do monge. Ao final deste ano, o governo federal e uma Força Pública catarinense, atacam o reduto. O ataque fracassa e os fanáticos se apoderam das armas. A partir de então começam a surgir novos redutos, cada vez mais em locais afastados para dificultar o ataque das tropas legais.
Em janeiro de 1914 um novo ataque é feito em conjunto com os dois Estados e o governo federal que arrasa completamente o acampamento de Taquaruçú. Mas a maior parte dos habitantes já estava em Caraguatá, de difícil acesso. No dia 9 de março de 1914 os soldados travam uma nova batalha, sendo derrotados. Essa derrota repercute em todo o interior, trazendo para o reduto mais e mais pessoas. Neste momento, formam-se piquetes para o arrebanhamento de animais da região para suprir as necessidades do reduto.
Mesmo com a vitória é criado outro reduto, o de Bom Sossego, e perto dele o de São Sebastião. Este último chegou a ter aproximadamente 2000 moradores. Os fanáticos não ficam só a esperar os ataques do governo, atacam as fazendas dos coronéis retirando tudo o que precisavam para as necessidades do reduto. Partiram também para atacar várias cidades, como foi o caso de Curitibanos. O principal alvo nesses casos eram cartórios onde se encontravam registros das terras, sendo incendiados. Outro ataque foi em Calmon, contra a segunda serraria da Lumber, destruindo-a completamente.
No auge do movimento, o território ocupado equivalia ao Estado de Alagoas, totalizando 20.000 km2. Até o fim do movimento haviam morrido cerca de 6000 caboclos. (Algumas fontes afirmam terem sido mais de 20.000 o número de mortos N. A.)


O contra-ataque do governo

Com a nomeação do General Setembrino de Carvalho para o comando das operações contra os fanáticos, a guerra muda de posição. Até então os rebeldes haviam ganho grande parte dos combates e as vitórias do governo eram inexpressivas. Setembrino vai reunir 7000 soldados, dispondo também de dois aviões de observação e combate.
Em seguida manda um manifesto aos habitantes das áreas ocupadas garantindo a devolução de terras para quem se entregasse, e tratamento inóspito para quem continuasse. Setembrino vai adotar uma nova postura de guerra, ao invés de ir ao combate direto, cerca os fanáticos com tropas vindas de todas as direções: norte – sul – leste – oeste.
Com esse cerco, começa a faltar comida nos acampamentos, fazendo com que alguns fanáticos começassem a se entregar, mas na sua maioria eram velhos, mulheres e crianças, talvez para que sobrasse mais comida aos combatentes. Começa a se destacar do reduto a figura do Adeodato, o último líder dos fanáticos, que muda o reduto-mor para o vale de Santa Maria, que contou com cerca de 5000 homens.
Na medida em que ia faltando comida, Adeodato começa a se revelar autoritário, não aceitando ser desafiado. Aos que queriam desertar, ou se entregar, era aplicada a pena máxima: a morte.
Em dezembro de 1915 o último reduto é devastado pelas tropas de Setembrino. Adeodato foge, vagando com tropas ao seu encalço, conseguindo escapar de seus perseguidores, mas a fome e o cansaço fazem com que Adeodato se entregue em início de agosto de 1916.
Em 1923, sete anos após ter sido preso, Adeodato é morto numa tentativa de fuga pelo próprio diretor da cadeia. Chegava ao fim a trajetória do último comandante dos fanáticos da região do Contestado.

Fontes:


Ver também:




Fotos: 1: Bandeira dos revoltosos - 2: Região do conflito - 3: Monge José Maria - 4: Construção da Estrada de Ferro - 5: Grupo de caboclos.